Diário do Mercado na 4ª feira, 26.02.2020
Mercado acionário brasileiro cai com “efeito coronavírus"
por Hamilton Moreira Alves, do BB-BI
Comentário.
Os piores temores do mercado doméstico se confirmaram na reabertura da bolsa brasileira. O índice que já havia registrado baixas na 5ª e na 6ª feira passadas, por conta do coronavírus e do feriado prolongado de carnaval no Brasil, teve a maior queda diária desde o debacle de -8,80% do dia 18.05.2017 (no jargão de mercado chamado de “joesley day”).
Neste período de recesso interno, os casos da doença se espalharam ainda mais pelo mundo e atingiram 37 países, passando de 80 mil ocorrências confirmadas (sendo cerca de 95% na China), com focos surgindo na Itália, no Irã e na Coreia do Sul.
Também, um primeiro caso foi constatado no Brasil (em São Paulo, de um viajante que chegou da Itália).
As bolsas de Nova York funcionaram normalmente na 2ª e 3ª feira passadas e sofreram quedas com a elevação global da aversão ao risco – o índice VIX passou de 17,08 na 6ª feira passada para 27,56 nesta 4ª feira. Neste quadro, o Ibovespa terminou sofrendo ajustes para baixo tanto motivado pelas quedas nos índices acionários pelo mundo, como pela percepção dos investidores que a situação ainda poderá se agravar mais.
A incerteza dos agentes também extrapola o impacto negativo no presente, antevendo e precificando possíveis consequências econômicas que poderão contaminar o crescimento global e doméstico ao longo do ano.
No Brasil, o dólar comercial assinalou nova máxima histórica de fechamento, findando cotado a R$ 4,4410 (+1,12%). Os juros futuros de curto prazo quase não variaram, mas a partir dos vencimentos intermediários, avançaram firme e progressivamente em direção da ponta longa.
Ibovespa.
O índice já abriu com “gap de baixa”, desabando rapidamente e passando a rondar a casa dos 108 mil pts (-5,00%), com a pressão vendedora tendo incremento do meio da tarde em diante em direção ao fechamento. Todas as ações do índice terminaram negativas.
O Ibovespa findou aos 105.718 pts (-7,00%), acumulando -7,07% no mês, -8,58% no ano e +8,32% em 12 meses. O preliminar giro financeiro da Bovespa foi de R$ 33,2 bilhões, sendo R$ 29,1 bilhões no mercado à vista – recordes para dias sem vencimentos.
Capitais Externos na Bolsa B3
No dia 20 de fevereiro, a Bovespa teve saída líquida de capital estrangeiro de R$ 1,482 bilhões, acumulando saldos negativos de -R$ 11,608 bi no mês e de -R$ 30,766 bi no ano.
Agenda Econômica.
Nos EUA as vendas de casas novas subiram 7,9% em janeiro, para 764 mil (taxa anual sazonalmente ajustada), versus +2,30% em dezembro (708 mil) – consenso em +3,5%, sendo o dado mais elevado desde julho de 2007.
Câmbio e CDS.
O dólar comercial (interbancário) mais uma vez alcançou seu pico histórico, em R$ 4,4470 e encerrou em sua máxima cotação histórica, em R$ 4,4410.
A elevação global da aversão ao risco impulsionou a valorização da divisa norte-americana no mercado internacional nesta semana, comportamento que se refletiu nesta quarta-feira no mercado doméstico.
O Banco Central interveio com leilões de swap cambial (funciona como venda de dólar futuro), amenizando a pressão compradora.
A moeda fechou a R$ 4,4410 (+1,12%), acumulando +3,66% no mês, +10,69% no ano e +18,58% em 12 meses.
Risco-País
O risco-país (CDS Brasil de 5 anos) avançou para 110 pts ante 93 pts na sexta-feira passada.
Juros.
Os juros futuros curtos tiveram levíssimas movimentações. Todavia, a partir dos contratos intermediários, registraram firmes e graduais elevações, como reflexo de um pior cenário externo mundial. Em relação ao pregão anterior, assim findaram as taxas:
DI janeiro/2021 em 4,20% de 4,19%;
DI janeiro/2022 em 4,76% de 4,68%;
DI janeiro/2023 em 5,37% de 5,26%;
DI janeiro/2024 em 5,89% de 5,75%;
DI janeiro/2025 em 6,19% de 6,06%;
DI janeiro/2027 em 6,63% de 6,47%.
Agenda.
Brasil: Caged (Criação de empregos formais); IGP- M, Dados do setor de crédito, Taxa de desemprego, Resultado primário e nominal do setor público;
EUA: PIB, PCE (inflação), Sentimento Univ de Michigan;
Japão: Produção Industrial;
China: PMI manufatura.
Empresas. Calendário de Balanços de Empresas 4T19 – vide p.3 do anexo
Confira no anexo a íntegra do relatório de análise do comortamento do mercado na 4ª feira, 27.02.2020, elaborado por HAMILTON MOREIRA ALVES, CNPI-T, integrante do BB Investimentos.