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Editorial

13 de Janeiro de 2022 as 02:01:43



EDITORIAL - Algo sobre Guido Mantega que não deve ser esquecido


Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda
 
EDITORIAL - Algo sobre Guido Mantega que não deve ser esquecido
 
Dias atrás o diário Folha de São Paulo publicou artigo do economista Guido Mantega, ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma Rousseff.
 
O artigo traz crítica contundente ao governo militar hoje instalado no Planalto e desanca o banqueiro e empresário Paulo Guedes, o atual ministro da Economia, apontando elementos do desastre que representa ao País sua gestão. O artigo apresenta conquistas obtidas pelo Brasil na gestão do ex-presidente Lula e também de Dilma Rousseff.  
 
Em reação ao artigo, a grande mídia deu voz a economistas e a outros profissionais ligados ao mercado financeiro, representativos dos interesses dos grandes bancos, em que, como não poderia deixar de ser, fizeram duras críticas ao mais longevo ministro da Fazenda do País e a seu artigo.
 
Há fatos que entraram para a história econômica brasileira, referentes a Guido Mantega assustar e ser rejeitado pelo mercado financeiro. E a verdade é que Mantega foi o único ministro que peitou o grupo de poder que ainda domina o sistema financeiro nacional e ousou contrariar interesses da elite financeira que prepondera na rapinagem das riquezas do País e pouco se importa que o Brasil viva em regime democrático ou sob uma ditadura.
 
Um desses fatos foi o embate entre Febraban e a dupla Guido Mantega-Dilma Rousseff, na empreitada desses últimos em sua busca de derrubar, de uma vez por todas: (1º) os escorchantes juros bancários brasileiros, historicamente os maiores do planeta; e  (2º) a taxa Selic aplicada na remuneração da dívida pública, em que bancos e rentistas fazem a festa, que é importante mecanismo de concentração de renda no topo da pirâmide social.
 
Dilma buscou essa derrubada dos juros e ela e Mantega caíram TAMBEM por causa disso.
 
Perda de Share
 
Como todos sabem, bancos tradicionalmente reduzem e até zeram sua oferta de crédito ao mercado quando identificam sinais de maior risco, seja risco-cliente, seja risco sistêmico. Contudo, o ministro Mantega exortou os bancos privados a operarem em favor da política econômica governamental contra-ciclo, que reverteria o quadro recessivo e traria bons resultados. Os banqueiros não lhe deram bola, mesmo tendo Mantega liberado a eles parcelas do Compulsório retido no BC.
 
Mantega insistiu e afirmou algo assim: "Vocês irão perder share (participação no mercado) e depois irão reclamar, mas não vai adiantar, pois os clientes que não conseguiram empréstimos em seus bancos, 'ficaram na mão', não voltarão a ser seus clientes: ficarão com os bancos que os socorrerem".  Mas, os banqueiros continuaram não dando bola a Mantega e a seus alertas e apelos. 
 
Diante disso, o governo federal, com recursos do Tesouro Nacional, ampliou a capacidade de concessão de crédito pelos bancos públicos, por meio da elevação do capital social do BB  e também da Caixa, do BNDES, do BASA e do BnB, os cinco bancos do Estado Brasileiro; e determinou às diretorias desses bancos públicos emprestarem recursos ao empresariado e às pessoas físicas, a juros sensivelmente menores que aqueles cobrados pelos bancos privados.
 
O resultado é conhecido: os bancos privados perderam participação no mercado e BB, Caixa e BNDES se agigantaram. Os banqueiros reclamaram e choraram muito o prejuízo financeiro e o encolhimento dos bancos privados.
 
Nessa ocasião, Armírio Fraga -- ex-presidente do Banco Central, responsável pela criação e implantação do regime de metas de inflação e de livre câmbio no País, graduado e pós-graduado na PUC-Rio e palestrante dileto da Casa das Graças, thinktank vespeiro do neoliberalismo brasileiro --defendeu o encolhimento do BNDES e dos bancos públicos em matéria de página inteira no jornal Valor, além de ter idealizado, com Henrique Meirelles, projeto de transformação do País em praça financeira livre-cambista internacional, projeto atualmente levado em frente por Roberto Campos Neto no BC, por meio do Novo Marco Legal do Câmbio, com a recente aprovação e sancionamento da Lei 14.286 de de 30.12.2021.
 
Especulações no Mercado de Câmbio Futuro
 
Outro fato em que Mantega foi protagonista foi a elevação, de quase zero para 6%, da taxa de IOF incidente sobre as operações especulativas no Mercado Futuro de Câmbio, das quais os grandes bancos sempre foram clientes de destaque. O  objetivo de Mantega foi deter a queda artificial persistente da cotação do Dólar e a correspondente valorização do Real. A Fiesp reclamava há décadas contra o câmbio baixo, fator de perda da competitividade de produtos brasileiros nos mercados interno e externo.
 
Os macroeconomistas do governo desconheciam as minúcias do funcionamento desse mecanismo especulativo e o papel destruidor da economia brasileira pelos grandes bancos no mercado de câmbio futuro. Mas, antes dessa medida de Mantega, de elevação do IOF sobre essas operações, matérias jornalisticas escritas por economistas brasileiros, no Valor e na Folha de São Paulo, explicaram que o segredo da valorização do Real estava nas especulações no mercado futuro do câmbio.
 
Mantega tomou a providência de impor IOF de 6% sobre essas operações, de que resultou a fantástica queda de 30% no lucro potencial estimado dos bancos no período de vigência da portaria, conforme noticiou o jornal O Valor na ocasião em matéria de meia página. Dentre eles, principalmente, o Itaú Unibanco, o Santander, o Bradesco e o Safra.
 
Guerra
 
Diante disso, o presidente da FEBRABAN na ocasião, Murilo  Portugal   -- que foi secretário do Tesouro Nacional no governo privatista de FHC -- entrou em acalorada guerra contra Mântega, mas foi contido pelos presidentes do grupo Itaú e do Bradesco, que lhe disseram algo com esse sentido: "Calma, aqui trabalhamos discretamente, sem alarde; depois a gente pega eles na curva".
 
A sequência dos fatos é de amplo conhecimento público: a Febraban conseguiu o inédito feito de trazer para junto de si a Fiesp e ambas passaram a discretamente conspirar contra o governo Dilma. Nesse panorama, enquanto Dilma Rousseff foi à Rússia, o vice-presidente Michel Temer participou de uma cerimônia militar no Mato Grosso do Sul, com os generais Villas Boas e Sérgio Echegoyen, os quais lhe teriam externado 'preocupação com os rumos do País', segundo algumas fontes.
 
Assim, carimbado com um provavel nihil obstat discreto do alto comando militar, Temer em seguida escreveu e tornou pública carta de rompimento político com a presidente Dilma Rousseff, visitou, conversou e proferiu palestras na Febraban e na Fiesp e ali expôs seu plano para a economia brasileira, o "Ponte para o Futuro", onde provavelmente obteve um segundo nihil obstat; e deu andamento a sua estratégia de tornar-se presidente da República, em parceria com seu aliado mdebista, Eduardo Cunha, presidente da Câmara Federal, que ali bloqueou a totalidade dos projetos propostos pelo governo federal e deu andamento a "pautas-bomba" e a um dos vários pedidos de impeachment contra Dilma Rousseff.
 
Em sua tentativa de deter o Golpe em curso, Dilma Rousseff, nesse ínterim, buscou conciliar-se com o mercado financeiro. Demitiu Guido Mântega do Ministério da Fazenda e o substituíu por um diretor do Bradesco, Joaquim Levy, cujo primeiro ato de gestão como ministro foi revogar a portaria ministerial por meio da qual Mântega tributou em 6% de IOF as operações especulativas no mercado de câmbio futuro. Com isso, a Fiesp de Paulo Skaff, embora tenha oferecido amplo apoio ao golpe de estado com seu pato amarelo inflável e seu sassarico midiárico do "não vou pagar o pato",  continuou como otário no prejuízo da valorização artificial do Real e das perdas acumuladas de competitividade dos produtos industriais brasileiros, em contraposição aos ganhos biliardários dos bancos. 
 
Esse movimento de Dilma, de tentativa de conciliação com o mercado, não foi suficiente para deter o poderoso movimento golpista:  Febraban e Fiesp, lideranças militares, STF, Operação Lava Jato, Congresso Nacional, Departamento de Justiça e Departamento de Estado norte-americanos, todos articulados em torno da estratégia do golpe de estado de 2016 que botou o Estado Brasileiro "de pernas pr´o ar", na sequente busca de maiores nacos de poder empreendida pela PGR, Ministério Público, STF, GSI, Senado, Câmara etc.
 
O golpe também desorganizou, desnacionalizou e quebrou setores importantes da economia brasileira ... e, pior, abriu espaço para ascenção da ultra-direita mais predatória, antinacional, violenta, ignorante e canalha de que se tem notícia na história do País ... E mentem aqueles que afirmam antes não terem imaginado que isso pudesse ocorrer, pois foram vários os artigos de historiadores e sociólogos em jornais e na academia, que alertaram para o perigo do enxovalhamento e destruição moral da classe política pela mídia hegemônica e do papel do Estado, pelos oportunistas liberaloides sem caráter, voltados a destruir o País que, até então, estava sob pleno emprego, inflação baixa, aportando tecnologia de vanguarda, atraindo grandes investimentos industriais externos e em pleno desenvolvimento economico e social.
 
A Febraban é tal como um elefante de memória fantástica: não se esquecerá jamais de que Mantega e Dilma a enfrentaram e impuseram prejuízo aos grandes bancos pela destruição que estes ocasionaram e ainda ocasionam à economia do País, por em sua atividade especulativa devastadora no câmbio.
 
A Federação, essa organização discreta, que tão bem representa o interesse dos grandes bancos, evita vir a público, mas se faz ouvir com grande persuasão na ventriloquia da penca de economistas do mercado financeiro e de jornalistas autoproclamados especializados a vociferar a defesa de seus interesses, contra os quais Guido Mantega e Dilma Rousseff corajosamente se antagonizaram.
 
Toda glória e reconhecimento a esses dois brasileiros fantásticos.
 
Mas, há muitos outros elefentes.


Fonte: DA REDACAO JF





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