Estado forte ajudará Brasil em janela de oportunidades, diz Mercadante
Europa e Estados Unidos adotam estratégia visando transição energética
O presidente do BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Aloizio Mercadante, disse que o Brasil precisa seguir o exemplo de EUA e Europa, no sentido de viabilizar investimentos e financiamentos públicos que deem condições para uma reindustrialização que favoreça a transição energética.
A afirmação foi feita nesta 3ª feira, 31.10 na Comissão de Meio Ambiente do Senado. Mercadante reiterou avaliação feita por diferentes autoridades brasileira de que o país vive uma “janela histórica de oportunidades” que decorrem das mudanças e da reorganização da economia global.
“Há 500 bancos públicos no mundo. Eles têm patrimônio de US$ 18,7 trilhões e respondem por 10% dos investimentos. Os norte-americanos estão botando US$ 383 bilhões na transição [energética]. Isso é subsídio do Estado americano. É política de compra do Estado; é protecionismo. Há inclusive mais US$ 280 bilhões [em investimentos] para microprocessadores, visando atrair as plantas industriais”,
disse Mercadante.
Mercadante explicou que há, em curso, “uma redistribuição da cadeia global de valor”, e que, nesse sentido, os EUA estão “cuidando do próprio quintal” ao se reindustrializarem.
“Os EUA acordaram. Já na Europa, são 806 bilhões de euros sendo colocados na economia”,
acrescentou.
Oportunidades
Para o presidente do BNDES, há uma grande diferença entre o que essas potências praticam e o que pregam para outros países.
“O Ocidente trouxe [para os países em desenvolvimento] essa agenda neoliberal de Estado mínimo; de que o Estado que não tem que ter relação com o mercado; e de que não precisamos de instrumentos de investimento público, nem de banco público. Mas se ficarmos [nessa cartilha], perderemos essa janela de oportunidade única e teremos uma taxa de crescimento baixa”,
afirmou.
Segundo Mercadante, por meio do BNDES é que o Brasil terá condições de favoráveis de competição neste contexto.
“O Brasil precisa do BNDES porque precisa de crédito público e de parceria público-privada, inclusive para estruturar projetos no mercado de capitais e para desenhar bons projetos para a gente avançar”,
complementou.
Para ele, outro ponto favorável para o Brasil é o fato de o país ser referência de estabilidade e paz, mesmo em tempos de tantas guerras, como o atual.
“Isso pode resultar na atração de investimentos”,
disse.
Coalizão Verde
“Estamos num processo muito forte. A demanda de crédito na Amazônia cresceu 204%, o dobro da da média nacional. O desembolso [para a região] está em 27%, portanto acima dos 20% da média nacional. Já tem um despertar na Amazônia. Estamos com um olhar muito atento, criando linhas específicas para micro e pequena empresa”,
complementou Mercadante.
Ele lembrou que, em uma parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), foi lançada uma linha de R$ 4,5 bilhões em investimentos para a região.
“Nossa perspectiva é chegar a R$ 100 bilhões com a Coalizão Verde, que vai tratar também dos outros países amazônicos. Vai ter muito interesse e muito investimento, inclusive externo”,
acrescentou.
Anunciada em agosto na Declaração de Belém, a Coalizão Verde é um dos mecanismos financeiros de fomento do desenvolvimento sustentável previstos para a região amazônica. A Declaração de Belém foi assinada pelos presidentes dos oito países amazônicos durante a Cúpula da Amazônia.