Novo alivio global
O mundo voltou a dar sinais favoráveis, tornando as perspectivas mais estáveis para as taxas de câmbio e inflação na América Latina
Cenário elaborado pelos economistas do ITAÚ BBA
e divulgado em 10.06.2016
O cenário global voltou a dar sinais favoráveis aos mercados emergentes. Nos Estados Unidos, a economia segue em recuperação, mas os dados mais fracos do mercado de trabalho sugerem que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) não terá pressa para retomar a alta de juros.
Na China, o crescimento vem se estabilizando, e a volatilidade da economia deve se reduzir. Nesse ambiente, os preços das commodities subiram, e o fluxo de recursos para emergentes retornou.
Riscos, contudo, remanescem. No curto prazo, o mais evidente é o plebiscito no Reino Unido, em 23 de junho. O cenário mais provável é o de permanência na União Europeia, porém, as chances de saída não são desprezíveis. A eleição presidencial nos EUA é outro risco para a economia global, mas ainda deve demorar alguns meses até que se torne um fator determinante para os preços dos ativos.
O alívio global torna as taxas de câmbio mais estáveis na América Latina, melhorando a perspectiva para a inflação e reduzindo a pressão sobre a política monetária. Os bancos centrais de países que estavam subindo juros devem manter a taxa básica estável nos próximos meses, com exceção da Colômbia, onde esperamos uma última alta de juros este mês, em resposta à inflação corrente elevada. Mesmo na Argentina, que está com uma inflação se aproximando de 40%, a apreciação recente do peso contribui para o banco central cortar juros.
O crescimento continua fraco, mas estável na região. A melhora externa e a possibilidade de manter a política monetária em patamar ainda expansionista devem abrir espaço para alguma retomada do crescimento em 2017. Fatores idiossincráticos, como a menor incerteza sobre as reformas no Chile e a esperada estabilização do investimento privado no Peru, reforçam a perspectiva de aceleração econômica no ano que vem.
No Brasil, as reformas começam a ganhar contornos. A nova equipe econômica anunciou uma proposta de criação de um teto para o crescimento dos gastos públicos e deu início às discussões sobre a reforma da Previdência. No entanto, ainda há incertezas acerca do consenso político para aprovar as medidas fiscais propostas. A recessão continua, mas os dados de alta frequência vêm melhorando, sugerindo que a atividade pode se estabilizar no segundo semestre. A economia fraca deve abrir espaço para reduções de juros, mas devido à pressão na inflação corrente, causada principalmente pela alta dos alimentos, postergamos nossa expectativa para o início do ciclo de queda de juros de julho para agosto.
Economia global: Ambiente global segue estável
O ambiente global se tornou mais favorável para os mercados emergentes, com recuperação dos preços das commodities, estabilidade na China e dólar mais estável. Os dados mais fracos no mercado de trabalho dos EUA, em maio, adiaram o próximo aumento de juros para setembro.
América Latina: Alguma recuperação à frente
A atividade econômica na América Latina está fraca, mas o crescimento está se estabilizando em quase toda a região. Esperamos alguma melhora do crescimento no próximo ano. O alívio global torna as taxas de câmbio mais estáveis, melhorando a perspectiva para a inflação.
Brasil: Reformas começam a ganhar forma, incertezas continuam
As reformas começam a ganhar contornos. No entanto, ainda há incertezas acerca do consenso político para aprovar as medidas fiscais propostas. A recessão continua, mas a atividade pode se estabilizar no segundo semestre.
Argentina: Ajustes difíceis
O ajuste de preços relativos já se reflete sobre a atividade, e a recessão encontra-se generalizada entre os setores da economia. Uma recuperação impulsionada pelo investimento é provável, auxiliada por políticas pró-mercado e pelo acesso aos mercados internacionais.
México: Volatilidade cambial retorna
Mantemos nossa projeção de que a taxa de câmbio irá encerrar este ano e o próximo em 17,5 pesos por dólar. À medida que a taxa de câmbio volte a refletir os fundamentos, novas altas de juros esse anos são pouco prováveis.
Chile: Sem recuperação ainda
O crescimento econômico continuou baixo no 1T16, e os indicadores de alta frequência mostram que o 2T16 começou pior do que esperado. Os preços baixos do cobre, uma política fiscal contracionista e a confiança do setor privado em terreno pessimista estão afetando a atividade.
Peru: Um novo governo
Pedro Pablo Kuczynski (PPK) foi eleito o novo presidente do Peru. A eleição de PPK é bem acolhida pelo mercado, mas a governabilidade não será fácil de alcançar.
Colômbia: Perto do fim do ciclo de alta de juros
Esperamos uma alta final de 0,25 p.p., para 7,5%. À medida que a inflação recua, esperamos cortes de juros para 6,5% no próximo ano.
Commodities: Alta de agrícolas e petróleo consistente com os fundamentos
Os preços de petróleo e agrícolas mantiveram a tendência de alta em maio em razão de fundamentos mais construtivos, apesar do dólar mais valorizado. Projetamos que a queda do preço do minério de ferro continue.