Os 54 milhões que votaram na Dilma não queriam os tucanos nem o programa deles, afirma Dr. Rudá Ricci
Em entrevista publicada no Jornal EL PAÍS, edição online, em 03.09, o cientísta político Dr. Rudá Ricci relatou seu ponto de vista a respeito do que se esperar do novo governo brasileiro e tambem sobre as consequência do impeachment para o sistema político do País.
Rudá Ricci, que é doutor em Ciência Política pela Unicamp, afirmou que a era de Michel Temer trouxe a oposição para o poder, chamando integrantes do PSDB para seu ministério.
"Esse é o golpe que ele promoveu. Os 54 milhões que votaram na Dilma não queriam os tucanos nem o programa deles. Um golpe que ainda vai amadurecer e vai piorar o quadro de baixa popularidade que já está colado nele. Desde que assumiu interinamente, Temer tem trabalhado para aprovar um ajuste fiscal, cuja consequência ainda vai se aprofundar. Os pobres serão os primeiros a sentir os efeitos da troca de poder, com o corte de programas sociais. Mas a conta será paga pela classe média dentro de um ano.
Contudo, Dr. Rudá Ricci alerta que, ao contrário do que esperam os artífices desta mudança de poder, a direita será rejeitada novamente nas urnas em 2018.
"Por uma razão simples. O Brasil é um país rico onde a maioria da população é pobre. Não há política liberal que sustente esta matemática. A direita, assim, pode ter implementado um bumerangue em que algum representante da esquerda voltará novamente ao poder. E este, para pavor dos que hoje se sentem vitoriosos, pode ser o mesmo PT. Mas pode ser outra legenda de esquerda."
Sobre as consequências do impeachment para o sistema político e para a nova oposição, Dr. Rudá Ricci afirma que Dilma chega ao final do seu Governo marcando o fim de 13 anos do PT na presidência da República, e simbolicamente da esquerda.
"Simbólico porque nem as suas bases tradicionais acreditam que o PT é o mesmo que chegou em 2003 com o ex-presidente Lula. As lideranças populares que se viam acolhidas pelos governos petistas no passado, hoje enxergam uma metamorfose que igualou o partido a outras legendas: conservador e a serviço das elites."
Dr. Ricci lembra que há outros movimentos de esquerda que se articulam no país inteiro, não são petistas, que "irão bater no Temer incansavelmente".
"No Governo, já vivemos um parlamentarismo não explícito, desde 1988, comandado pelo ‘baixo clero’ do Congresso. A Constituição foi promulgada com um sistema presidencialista híbrido".
Rudá Guedes Moisés Salerno Ricci é um cientista político formado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) na década de 80. Mestre em Representação Sindical no Brasil pela Unicamp e Doutor em Ciências Sociais pela mesma instituição. Diretor-geral do Instituto Cultiva em Minas Gerais.