Cockpit do Copom: aceleração moderada para corte de 1 p.p.
A consolidação do cenário de desinflação abre espaço para uma intensificação do ritmo de flexibilização monetária.
Abril 7, 2017
O COPOM Comitê de Política Monetária do Banco Central volta a se reunir semana que vem. Os dados recentes mostram que a inflação consolidou o cenário de queda e a atividade segue fraca, apesar de alguns sinais melhores na margem.
As projeções do Copom devem ser as mesmas divulgadas no Relatório de Inflação do primeiro trimestre. Nesse ambiente, avaliamos que o Comitê irá realizar um corte de 1 ponto percentual na próxima semana, levando a taxa Selic para 11,25%.
Em relação ao comunicado, esperamos que o Comitê sinalize que a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá das projeções e expectativas de inflação para 2019, mas também das estimativas de taxa de juros estrutural da economia brasileira.
Além disso, o Copom deve ressaltar que “ajustes” no ritmo de flexibilização monetária dependerão da estimativa da extensão do ciclo, das projeções e expectativas de inflação e dos fatores de riscos associados ao cenário – reintroduzindo, assim, certa simetria em torno das expectativas sobre a evolução da política monetária.
1 - Evolução dos dados
Os dados de inflação continuaram abaixo das expectativas. A queda da inflação foi disseminada entre os componentes. Em particular, a inflação de serviços, item de especial interesse para as autoridades monetárias, deu sinais mais claros de queda, reflexo da forte deterioração do mercado de trabalho. No atacado, os preços registraram deflação em março, diante da queda dos preços de commodities agrícolas.
A atividade econômica, por sua vez, continua fraca. No mercado de trabalho, houve criação de empregos formais em fevereiro, acima das expectativas. No entanto, com ajuste sazonal, o resultado foi uma destruição de 55 mil empregos formais, que é um patamar consistente com o aumento da taxa de desemprego. A atividade do setor de serviços e as vendas varejistas vieram aquém das expectativas, mas ambos os resultados podem ter sido afetados por mudanças metodológicas.
A produção industrial registrou variação negativa em janeiro e ficou estável em fevereiro (0,1%), abaixo das expectativas. Há que se ressaltar, contudo, que os indicadores antecedentes seguem apontando uma melhora à frente.
Em março, houve uma alta disseminada da confiança dos empresários e dos consumidores, reforçando a tendência dos últimos meses. Além disso, os modelos de alta frequência para o PIB do primeiro trimestre apontam para uma forte contribuição do setor agrícola e extrativo.
No lado fiscal, os resultados mensais continuam negativos, reforçando a necessidade de aprovação das medidas de ajuste. A tramitação da reforma da Previdência não teve avanços desde a última reunião do Copom. A proposta se encontra na comissão especial na Câmara dos Deputados e está à espera do parecer do relator – as resistências no Congresso parecem estar recrudescendo.
2 – Projeções de inflação
As projeções de inflação do Copom, considerando as taxas de juros e câmbio da pesquisa Focus[1] , provavelmente serão as mesmas divulgadas no Relatório de Inflação (RI) do primeiro trimestre (divulgado no dia 30 de março), uma vez que as expectativas para taxa Selic e taxa de câmbio tiveram poucas mudanças.
Desde a divulgação do RI, as expectativas para a taxa Selic diminuíram de 9,0% para 8,75% no fim de 2017 e permaneceram estáveis em 8,5% em 2018. Para a taxa de câmbio, a expectativa para 2017 teve um leve recuo para 3,25 reais por dólar e ficaram estáveis em 3,40 reais por dólar em 2018.
A tabela abaixo resume nossa tentativa de replicar o modelo de pequeno porte do Banco Central (BCB). Segundo os nossos cálculos, as projeções permaneceram em 4,0% e em 4,5% para 2017 e 2018, respectivamente.
3 – Evolução da Comunicação e o Copômetro
No comunicado e na ata da reunião de fevereiro, a autoridade monetária sinalizou que uma possível intensificação da flexibilização dependeria da extensão do ciclo, que depende da “taxa de juros estrutural” da economia brasileira, do comportamento da atividade econômica, dos fatores de risco (ambiente externo, choque dos preços de alimentos e recessão prolongada) e das projeções e expectativas de inflação.
No RI divulgado na semana passada, o Comitê sinalizou que a consolidação do cenário de desinflação mais difundida fortalece a possibilidade de uma intensificação "moderada" do ritmo de flexibilização da política monetária, em relação ao ritmo das duas últimas reuniões do Copom.
Além disso, a projeção de inflação de 2018 sob o cenário de mercado, que está em 4,5%, também traz uma mensagem relevante: o ciclo de flexibilização que leva a taxa de juros para 9,0% no fim deste ano e 8,5% no fim de 2018 não é inconsistente com o alcance da meta de inflação.
Em comunicações recentes, as autoridades reforçaram essa mensagem e têm afirmado que, com a ancoragem das expectativas de inflação, a política monetária pode apoiar a recuperação da atividade econômica, em conjunto com o avanço das reformas fiscais e microeconômicas.
Para tentar antecipar as decisões do Copom a partir da comunicação do BC, utilizamos o Copômetro, um índice que mede o grau de restrição ou expansão implícita na comunicação do BC.
Aplicando a metodologia, entendemos que o tom ficou mais expansionista. Assim, o Copômetro reforça o cenário de aceleração do ritmo de corte de juros de 0,75 p.p. para 1 p.p. na reunião da próxima semana.
4 - Nossa visão: Corte de 1,0 pp na Selic
A consolidação do cenário de desinflação, em um ambiente de expectativas ancoradas e atividade fraca, abre espaço para uma intensificação do ritmo de flexibilização monetária.
Nesse ambiente, esperamos que o Copom realize um corte de 1,0 p.p. na reunião da próxima semana.
No comunicado, esperamos que o Comitê sinalize que a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá das projeções e expectativas de inflação para 2019, mas também das estimativas de taxa de juros estrutural da economia brasileira.
Além disso, o Copom deve ressaltar que “ajustes” no ritmo de flexibilização monetária dependerão da estimativa da extensão do ciclo, das projeções e expectativas de inflação e dos fatores de riscos associados ao cenário – reintroduzindo, assim, certa simetria em torno das expectativas sobre a evolução da política monetária.
[1] O Copom divulgou na ata de fevereiro que, no contexto do processo de flexibilização da política monetária em curso, as projeções com taxa de juros constantes são pouco informativas e só irá divulgar nos Comunicados e Notas de suas reuniões apenas as projeções condicionais para a inflação nos cenários que julgar informativos de sua visão sobre a condução da política monetária.
Confira no anexo a íntegra do relatório preparado pelos eocnomistas do ITAÚ BBA sobre a reunião do COPOM que acontecerá a partir da 3ª feira, 11.04.2017.