Resultados pouco expressivos em carne bovina, enquanto volumes mais baixos e preços médios inferiores pressionaram a receita de exportações de aves e suínos.
Seguindo a mesma trajetória do mês passado, as exportações de carne bovina ficaram estáveis em maio, enquanto os preços caíram 1% ano/ano. Como resultado, a receita caiu para US$ 379 milhões (-1% ano/ano).
As exportações de aves, por sua vez, continuaram em queda e os volumes diminuíram 1,5% ano/ano, enquanto os preços médios apresentaram redução de 9% ano/ano. Por esse motivo, a receita caiu significativamente em 10% ano/ano para US$ 476 milhões.
Poderemos ver à frente outros impactos nos volumes exportados, dada a restrição da Europa para a carne iniciada em maio.
A carne suína também apresentou uma redução substancial na receita (-26% ano/ano) principalmente devido a uma redução de 2% ano/ano nos volumes exportados e 25% ano/ano nos preços médios. Em nossa opinião, os volumes continuaram a ser negativamente afetados pela restrição russa.
Coreia do Sul
No entanto, a queda nos volumes pode ser parcialmente amenizada pelos volumes endereçados à Coreia do Sul. Além das incertezas advindas da greve (comentada abaixo), vale mencionar como positivo para o setor a abertura do mercado da Coreia do Sul, em maio, para a carne suína brasileira. Aquele país é o quarto maior importador de carne suína e um dos maiores consumidores per capita de carne suína com cerca de 33 kg/pessoa, sendo um mercado potencial para o Brasil.
Em nossa opinião, embora esperemos que a Rússia reabra em breve, o novo mercado asiático pode contribuir para:
(i) aumentos nos volumes exportados, mitigando a diferença deixada pelo país desde dezembro de 2017, e
(ii) melhorias no equilíbrio entre oferta doméstica e demanda, suportando aumentos de preços à frente.
Em maio, a maioria das ações da empresa no setor apresentou desempenho abaixo do Ibovespa. O MDIA3 foi o que apresentou a queda mais profunda, -21% mês/mês.
Além dos resultados do 1T18 abaixo da expectativa do mercado, os preços mais altos do trigo, o dólar mais forte e o impacto negativo da greve na cadeia de fornecimento vêm exercendo pressões de baixa adicionais sobre as ações. BRFS3 caiu 14% mês/mês principalmente devido a:
(i) decisão européia de restringir 12 plantas da BRF a exportar para a região;
(ii) a suspensão de abate devido à greve dos caminhoneiros no Brasil.
Por outro lado, o anúncio de que Pedro Parente saiu da presidência da Petrobras elevou o preço das ações em cerca de 9% na última 6ª feira, 01.06.
Em nossa opinião, as especulações em torno do novo CEO e as questões relacionadas à greve e às restrições de exportação (Europa e Rússia) podem continuar a contribuir para alguma volatilidade no BRFS3 no curto prazo.
Greve dos Caminhoneiros - Nossa Visão sobre o Setor de Proteína Animal
A greve dos caminhoneiros, que atingiu extensão nacional no Brasil na semana passada, teve um impacto significativo no setor de proteína animal, especialmente para as empresas avícola e suína (BRF e JBS), que se impuseram uma racionalização de rações no período. Entre as principais consequências negativas, destacamos:
(i) diminuição do número de abates no curto prazo; e
(ii) morte de milhões de frangos e porcos que também podem ter afetado os animais reprodutivos.
De acordo com a ABPA Associação Brasileira de Proteína Animal em sua última versão, 70 milhões de frangos morreram durante esse período, 167 plantas foram paradas e pelo menos 135 mil toneladas de carne de frango e suíno não foram exportadas. Na última 6ª feira, 01.06, a ABPA anunciou que 163 usinas retomaram as atividades gradualmente.
No entanto, considerando o enorme efeito em toda a cadeia de produção, acreditamos que os padrões normais relativos à produção podem ser observados dentro de 40 a 60 dias. Assim, devemos ver uma redução de ~20% no abate de frangos e suínos entre maio e junho. Para a indústria de proteína animal como um todo, apontamos como negativa
(i) atrasos nas entregas no mercado interno, e
(ii) interrupções nas exportações. Portanto, os volumes de vendas domésticas e internacionais devem ser impactados no curto prazo até que as operações sejam restabelecidas, o que acreditamos que possa ocorrer dentro de 1 a 2 semanas.
Por outro lado, apesar do impacto relevante acima mencionado, destacamos algumas aspectos que devem mitigar parcialmente essas paralisações:
(i) a antecipação do reequilíbrio no fornecimento de frango;
(ii) melhoria do equilíbrio entre oferta e demanda, contribuindo para uma melhor estratégia de preços no setor;
(iii) com relação ao canal de vendas, à medida que os mercados doméstico e internacional ficaram indisponíveis, poderemos ver um maior volume de vendas adiante até a normalização das ações.
Assim, no médio prazo, o cenário de maiores volumes e preços mais altos deve compensar o efeito pontual negativo da greve nos volumes e custos, a nosso ver.
Acompanharemos os esforços da empresa para retomar os níveis de produção e estoques, no menor tempo possível, garantindo qualidade e segurança alimentar, em outros para diluir o efeito da greve ao longo do ano.
Além disso, outra questão que surgiu com a greve foi o aumento dos impostos sobre a folha de pagamento para muitos setores e a revisão da avaliação da contribuição.
Felizmente, o benefício da taxa de 1% para a indústria de aves e suínos foi prorrogado até 2021, aliviando o cenário já desafiador para as empresas no curto prazo.
Bebidas
A ABEV3 apresentou a segunda maior queda no mês, caindo 16% mês/mês. Ressaltamos as razões para esse comportamento negativo:
(i) a inflação no mercado de cerveja foi negativa em 2,12% em maio, o que pode impactar a margem da indústria,
(ii) como importante impulso para a indústria, a taxa de desemprego subiu para 13,1% Março, ante 11,8% no final de 2017 e 11,6% em 2016, e
(iii) o setor pode enfrentar redução no volume de vendas devido à greve dos caminhoneiros.
Embora menos afetado quando comparado à indústria de proteína animal, o setor de bebidas também pode ter sentido os efeitos da greve. Considerando a logística prejudicada devido à parada dos caminhoneiros, a distribuição do produto pode estar desatualizada.
Além disso, o consumo também deve ter sofrido um impacto negativo, dado o menor número de movimentos em restaurantes e bares no período.
Copa do Mundo
Por outro lado, é importante mencionar que o setor de bebidas pode ter um cenário positivo à frente, considerando a Copa do Mundo em junho. Segundo a Nielsen, há um crescimento histórico no período de aproximadamente 8,5% no consumo de cerveja.
Por este motivo, a CervBrasil Associação da Indústria Cervejeira Brasileira estima que o volume de vendas deverá crescer 2,5% ano/ano no Brasil. Em razão deste cenário favorável, esperamos um aumento de 12% aa no EBITDA 18E da Ambev.