Alimentos & Bebidas - Relatório Setorial BB-BI, de Junho/2018
03.07.2018
Junho: números mais fracos em um segundo trimestre difícil; BRF anuncia plano de reestruturação
Alimentos
Como esperado, as interrupções no fornecimento devido à greve dos caminhoneiros tiveram um impacto adverso nas exportações brasileiras. De acordo com os números divulgados pelo MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Exportação), os volumes exportados de carne bovina caíram 51% ano/ano em junho, após dois meses de resultados estáveis.
Portanto, a receita foi de US$ 257 milhões (-39% aa), parcialmente compensada pelo aumento de 24% aa do preço médio. Por outro lado, seguindo o mesmo caminho em termos de volumes, mas sem alívio de preço, aves e suínos registraram receitas fortemente menores a / a.
O volume de exportação de aves encolheu 42% ano/ano, enquanto a redução de 8% ano/ano nos preços médios contribuiu para uma queda de 47% na receita, que totalizou US $ 299 milhões.
A carne suína, por sua vez, apresentou um declínio de 52% ano/ano em volume e 24% ano/ano nos preços médios, levando a receita a um declínio substancial de 64% ano/ano.
Além dos menores volumes, vemos maiores custos pressionando as margens do setor no 2T18. Embora o preço médio do gado tenha apresentado queda de 1,5% mês/mês, chegando a R$ 138,5 / @ em junho, foi 5% maior ano/ano. Seguindo a mesma trajetória, o preço do milho caiu 5% mês/mês, atingindo o menor nível de R$ 37 / saca desde fevereiro.
Como resultado do maior custo do frete e da impossibilidade de repassar esses custos, o comércio de grãos estagnou e os estoques aumentaram, empurrando os preços para baixo. No entanto, considerando todo o 2T, os preços do milho aumentaram em média 50% aa em relação ao 2T17.
Dessa forma, esperamos que as margens sejam esmagadas na indústria de aves e suínos no 2T18, juntamente com o cenário desafiador para as exportações e a demanda ainda fraca no mercado interno.
Em junho, mais uma vez, a maioria das ações da empresa no setor apresentou desempenho abaixo do Ibovespa. O BRFS3 foi a maior queda, -15% mês/mês.
Além das restrições mantidas impostas pela Rússia e pela Europa, o desempenho negativo também resultou da medida antidumping estabelecida pela China, que implementou uma taxa de importação de 23,5% sobre os produtos da BRF.
A segunda maior queda foi de BEEF3, que caiu 14% mês/mês principalmente devido ao anúncio de que a BRF vendeu ações ordinárias emitidas pela Minerva, reduzindo sua participação de 6,8% de cerca de 12%.
Por outro lado, o MRFG3 foi beneficiado com a conclusão da aquisição de 51% da National Beef`, juntamente com uma expectativa positiva em torno do desinvestimento (Keystone) que deverá promover uma significativa desalavancagem à frente.
Nossas reflexões sobre o anúncio da BRF de medidas ativas para melhorar a estrutura de capital e reduzir a alavancagem:
Na última 6ª feira, 29.06, a BRF anunciou um plano de reestruturação agressivo, em nossa visão, operacional e financeiro. Enfrentando um alto nível de alavancagem e um cenário desafiador, especialmente considerando o excesso de oferta e menores volumes exportados decorrentes das restrições da UE, Rússia e China, a nova administração decidiu concentrar-se em quatro iniciativas principais, como segue:
(i) venda de ativos na Europa, Argentina e Tailândia (que correspondem a 10% do volume total e receita no consolidado);
(ii) venda de ativos não estratégicos;
(iii) melhorias no capital de giro através de uma eficiente gestão de estoques de produtos acabados e matérias-primas congeladas; e
(iv) securitização de recebíveis.
De acordo com a administração, esses esforços devem permitir que a empresa capitalize cerca de R$ 5,0 bilhões em 2018, alavancagem líder para um nível de 4,35x em YE18 e 3,0x em YE19.
Em nossa opinião, o atraso na obtenção das sinergias esperadas por meio de aquisições importantes, como a Golden Foods Siam (GFS) na Tailândia e a Campo Austral na Argentina, contribuiu para a tomada de decisões sobre desinvestimentos.
Apesar de acreditarmos que essas medidas são bastante agressivas, uma vez que consideramos seis meses um prazo apertado para implementar todas as iniciativas, é um primeiro passo para o tão aguardado processo de reestruturação.
Além disso, também esperamos que a empresa possa ganhar eficiência devido a novos ajustes na produção. Nesse sentido, a empresa reforçou que está avaliando seus ativos para equilibrar adequadamente oferta e demanda.
De acordo com a empresa, 22 plantas (de um total de 35) no Brasil podem sofrer ajustes nos próximos 60 dias, enquanto o número de funcionários reduziu em cerca de 5% desde 18 de março.
Portanto, embora esperemos resultados fracos no 2T18 como resultado do cenário difícil mencionado, acreditamos que as iniciativas anunciadas e um melhor equilíbrio entre oferta e demanda no setor podem levar a BRF a uma recuperação razoavelmente marginal e a uma desalavancagem no médio prazo.
Bebidas
A ABEV3 também apresentou desempenho negativo, pelo terceiro mês consecutivo, e caiu 7,4% mês/mês em junho. Destacamos alguns aspectos que vêm contribuindo para os movimentos de baixa patrimonial:
(i) cenário ainda fraco para o consumo no Brasil, considerando a ainda alta taxa de desocupação (em 13,1% em março, segundo o IBGE) e menor disponibilidade de renda disponível; e
(ii) o efeito adverso no volume de vendas devido à greve dos caminhoneiros. Além disso, em 20 de junho, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Congresso aprovou dois decretos legislativos suspendendo a redução do incentivo fiscal para produtores de refrigerantes na Zona Franca de Manaus.
Nesse contexto, a Ambev deve ser impactada negativamente, uma vez que a empresa acumulou grandes quantias de créditos tributários que compensam os impostos cobrados sobre cervejas.
TRADUÇÃO DO ORIGINAL EM INGLÊS: REDAÇÃO JF
Confira no anexo a íntegra do relatório preparado por LUCIANA CARVALHO, CNPI, Analista Senior do BB Investimentos