VALE - Flash de Mercado
Rompimento da Barragem de Brumadinho
Estamos profundamente entristecidos em ter que escrever sobre a tragédia em Brumadinho (MG) em razão do desastre ocorrido na barragem da mina do Feijão, na última 6ª feira, 25.01. Conforme divulgado, os rejeitos atingiram a área administrativa da Vale e parte da comunidade da Vila Ferteco.
Até o momento, as autoridades civis de Minas Gerais informaram que há 60 mortos e que quase 300 pessoas continuam desaparecidas. Longe de compararmos a magnitude do ocorrido em Brumadinho com o acidente em Mariana, infelizmente temos que concordar que a recorrência e o provável número de vítimas tornam o acontecido ainda mais trágico, enquanto os futuros impactos ainda são incertos.
Sobre o desastre.
Na última 6ª feira, 25.01, a Vale comunicou ao mercado o rompimento da barragem 1 da mina do Feijão em Brumadinho (MG), cujos rejeitos atingiram a área administrativa da Vale e parte da comunidade da Vila Ferteco.
Diante da proximidade do local à comunidade, as perdas humanas já são muito maiores do que o visto em Mariana, com o acidente da Samarco em 2015. De acordo com a Defesa Civil, já são 60 vítimas fatais e quase 300 pessoas continuam desaparecidas.
Sobre a barragem.
As operações da Vale são divididas em Sistemas. A barragem 1 da mina do córrego do Feijão é parte do Complexo de Paraopebas, do Sistema Sul. Em termos de números, a mina do Feijão produziu 8,5 Mt de MF em 2018, enquanto Paraopebas somou 27,3 Mt (apenas para comparação, esperamos que a produção total de MF da Vale em 2018 atinja ~390 mt).
É importante mencionar que a Barragem 1 estava inativa desde 2015 (sem despejo de rejeitos), sem um lago e sem qualquer atividade operacional em curso. De acordo com informações no website da companhia, atualmente havia um projeto de descomissionamento para a barragem sob desenvolvimento.
Sobre os fatores ambientais e operacionais.
Conforme informado pela Vale, a Barragem 1 possuía ‘Declarações de Condição de Estabilidade’ emitida pela empresa TUV SUD do Brasil, empresa internacional de Geotecnia, em 13/06/2018 e 26/09/2018, referentes aos processos de ‘Revisão Periódica de Segurança em Barragens’ e inspeção ‘Regular de Segurança em Barragens’, respectivamente, como determinado pela portaria DNPM 70.389/2017.
Desta forma, todos os procedimentos de segurança estavam de acordo com as normas brasileiras. As investigações devem seguir, a fim de entender a causa do acidente. A Barragem contava com volume de 11,7 mm m3 (em Mariana, este volume era de aproximadamente 50 mm m3).
Sobre os impactos na Vale e na Indústria.
Em nossa opinião, além dos já mencionados impactos na comunidade e no meio ambiente, acreditamos que impactos financeiros podem ser esperados no balanço da companhia no curto prazo. Atualmente, a empresa foi multada em R$ 250 mm pelo IBAMA e R$ 99 mm pelo governo de MG.
Houve também um bloqueio no valor total de R$ 11 bi. Finalmente, o ministério do trabalho também entrou com processo solicitando mais R$ 1,6 bi para indenização das vítimas e seus familiares.
Voltando ao processo da Samarco, houve um processo judicial inicial de R$ 20 bn, ora concluído por meio de um acordo entre a Samarco, seus acionistas e as autoridades brasileiras, por meio do qual a Vale aprovisionou R$ 3,4 bi e, dentre outras iniciativas, criou-se a Fundação Renova.
No aspecto geral, vemos um cenário mais desafiador para futuras licenças ambientais para toda a indústria brasileira. Já para o negócio de seguros, no período pós-Samarco as seguradoras reduziram o teto para indenizações máximas e isto deverá ser revisitado, já que os riscos cresceram.
Sobre os impactos no valuation da Vale.
Ainda é cedo para aplicarmos em nosso modelo todos os impactos que o acidente pode trazer para as operações da Vale e seus futuros resultados. Somado ao anúncio de suspensão dos dividendos, considerados como um dos upsides mais esperados por seus acionistas, os principais riscos que podem surgir no curto prazo são:
(i) provisões para indenizações, diretamente afetando o balanço da companhia,
(ii) outras despesas operacionais e não-operacionais, que poderiam impactar negativamente a geração de caixa da empresa, e
(iii) a possível, porem improvável, revogação das licenças para operar.
Isto posto, vemos os fundamentos iniciais da indústria ainda mantidos. Ainda, devido à falta de informações sobre os impactos financeiros na companhia e considerando que o incidente não afeta expressivamente a capacidade operacional da Vale, mantemos nosso preço-alvo para VALE3 em R$ 73,5 (VALE US US$ 21,0), embora rebaixamos nossa recomendação para Market Perform, enquanto esperamos por informações adicionais.