Indígenas alertam policiais: poderão detê-los e aplicar-lhes a Justiça Indígena
Pelo oitavo dia, indígenas, estudantes e trabalhadores do Equador protestaram contra o Decreto 883, nesta 5ª feira, 10.10, assinado pelo presidente Lenín Moreno, que eliminou subsídios aos combustíveis.
Apesar de indígenas terem deixado Quito após a mobilização de 4ª feira, o presidente da CONAIE Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador, Jaime Vargas, afirmou que as manifestações seguirão até que o governo revise o pacote de medidas econômicas que implementou no âmbito do acordo com o FMI Fundo Monetário Internacional.
Vargas disse que as marchas e protestos seguirão em Quito por tempo indeterminado.
Retórica desmentida
Moreno anunciou na 4ª feira ter voltado a Quito para dialogar com os manifestantes. Ele estava na cidade costeira de Guayaquil, centro econômico do país, para onde a sede do governo foi transferida após violentos protestos e invasões de prédios, como o da Assembleia Nacional.
A mudança da sede do governo, decretada por Moreno em 3 de outubro, será mantida durante 30 dias, a vigência do estado de exceção.
Jaime Vargas, presidente do Conaie, negou que haja diálogo com o governo. Em nota publicada no site da organização, ele exigiu a liberdade de cerca de 500 pessoas detidas nos protestos e responsabilizou os ministros María Paula Romo, de Governo, e Oswaldo Jarrín, da Defesa, pela violência por parte do Exército e da Polícia Nacional.
Massacre policial e prisões
De acordo com a imprensa equatoriana, mais de quinhentas pessoas foram detidas nos últimos dias. As manifestações foram marcadas por violência. A polícia reagiu com gás lacrimogêneo e cercou parte do centro de Quito, onde estão alguns dos prédios importantes do governo.
Moreno decretou toque de recolher entre às 20h e às 5h da manhã, durante um mês, nos arredores do Palácio de Carondelet, para evitar que os manifestantes se aproximem da sede do executivo.
Os manifestantes querem a saída do mandatário, que assumiu a presidência com o apoio do ex-presidente Rafael Correa, sob o compromisso de exercer uma política continuista, mas traiu seu ideário, aplicou um estelionato eleitoral e passou a perseguir o ex-presidente, hoje exilado na Holanda.
Entre as seis medidas anunciadas por Governo, recomendadas pelo FMI, que vão da redução de tarifas para a importação de produtos informáticos a uma diminuição dos salários para contratos temporários no setor público, figura a liberalização do preço de gasolina e a eliminação dos subsídios ao combustível. O preço do galão de gasolina (3,8 litros) subiu de 1,85 para 2,22 dólares, ou seja, de R$ 2,00 para R$ 2,40.
Os indígenas, que pertencem à camada mais vulnerável da população, trabalham majoritariamente na lavoura e precisam de combustível para seu maquinário agrícola.
Justiça Indígena
Em um comunicado, as comunidades disseram que os ajustes
“afetam o conjunto da sociedade equatoriana e deterioram as condições de vida e existência dos setores populares mais vulneráveis do país”.
“Militares e policiais que se aproximarem dos nossos territórios serão retidos e submetidos à Justiça indígena”,
advertem.