Boris Johnson anuncia fim da missão militar do Reino Unido no Afeganistão
Trabalhistas dizem que 'lavar as mãos' do conflito agora pode levar a uma guerra mais sangrenta e controle mais amplo do Talibã
Boris Johnson anunciou o fim da missão militar britânica no Afeganistão após uma saída apressada e secreta das últimas tropas remanescentes 20 anos após a invasão pós-11 de setembro que iniciou a "guerra ao terror".
O primeiro-ministro confirmou aos deputados que a intervenção, que ceifou a vida de 457 soldados britânicos, terminaria mesmo quando o talibã insurgente estivesse rapidamente ganhando território em áreas rurais, à medida que o Reino Unido, os EUA e outras forças se retiravam.
Falando na Câmara dos Comuns, Johnson disse que "todas as tropas britânicas designadas para a missão da Otan no Afeganistão estão agora voltando para casa". Embora ele não revele o cronograma exato da partida por razões de segurança, o primeiro-ministro acrescentou:
"Posso dizer à casa que a maioria do nosso pessoal já saiu".
Em um briefing separado de defesa, o chefe das forças armadas, Sir Nick Carter, reconheceu que as recentes notícias do Afeganistão tinham sido "bastante sombrias", mas disse que os militares afegãos estavam se reagrupando para defender áreas urbanas.
Ele disse que, embora fosse justo dizer que o Talibã detinha agora quase 50% dos distritos rurais no Afeganistão e que o exército afegão também não teria mais acesso ao poder aéreo [ocidental] de dentro do país, ele esperava que eventualmente houvesse negociações de paz entre o Talibã e o governo afegão.
O contingente de 750 membros da Grã-Bretanha, parte de uma missão mais ampla de estabilização da Otan, tem deixado o país nas últimas semanas para um prazo operacional de 4 de julho, depois que o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que queria retirar a maioria das 2.500 tropas de combate americanas restantes.
As cerimônias de retirada de bandeiras foram conduzidas em grande parte em segredo à medida que as forças britânicas se retiraram, a última das quais ocorreu em 24 de junho, quando a bandeira do sindicato foi entregue ao embaixador britânico. Fontes da defesa disseram que o sigilo foi a pedido dos EUA, citando segurança operacional.
Johnson e Carter argumentaram que a intervenção no Afeganistão ajudou a promover mudanças fundamentais no país, citando melhorias no acesso à eletricidade, água e educação, com mais 8,2 milhões de crianças na escola.
As salas de aula incluíam 3,6 milhões de meninas, acrescentou Johnson, destacando que antes de 2001, "[no] Afeganistão governado pelo Talibã, praticamente nenhuma garota frequentava a escola".
Os trabalhistas disseram que a Grã-Bretanha estava partindo sem ter garantido os ganhos dos últimos 20 anos. Angela Rayner, vice-líder do partido, disse que, embora ninguém quisesse ver tropas britânicas permanentemente estacionadas no Afeganistão, "se simplesmente lavarmos as mãos ou sairmos é difícil ver um futuro sem conflitos mais sangrentos e controle mais amplo do Talibã".
Em resposta, Johnson disse não acreditar que os talibãs estavam "garantidos o tipo de vitória que às vezes você lê". Mais tarde, no debate, ele acrescentou que a intervenção britânica no Afeganistão "nunca foi planejada em nenhum momento para ser um compromisso aberto".
Houve também mal-estar nas bancadas conservadoras. O ex-líder do partido, Iain Duncan Smith, disse aos deputados que a retirada foi "um pouco como nos últimos dias do Vietnã, uma saída sem precedentes e apressada sem compromisso".
A Grã-Bretanha deixará para trás um pequeno número de tropas para apoiar uma força de proteção liderada pelos EUA para diplomatas em Cabul, embora o Ministério da Defesa não diga quantos estavam remanescentes no terreno.
A RAF poderia se envolver no fornecimento de apoio aéreo de bases aéreas fora do Afeganistão, após o abandono na semana passada da base principal de Bagram. Perder o acesso fácil ao poder aéreo é uma grande perda de capacidade para o exército afegão enquanto luta para se defender do avanço talibã.
O Ministério das Relações Exteriores também pretende manter uma embaixada em Cabul, embora não seja, pelo menos inicialmente, guardada pelas tropas britânicas. O governo britânico fornecerá 100 milhões de libras em ajuda e 58 milhões de libras para as forças de defesa afegãs.
Carter disse que nenhuma capital provincial havia caído no Afeganistão e que era "inteiramente possível que o governo afegão derrote o Talibã por tempo suficiente para que os talibãs percebam que têm que falar".
Mas ele admitiu que era um dos três cenários possíveis para o país, sendo os outros um retorno ao senhor da guerra e uma vitória talibã.
Johnson também resistiu aos apelos para realizar um inquérito público sobre a guerra, nos moldes do relatório Chilcot sobre o Iraque, que foi solicitado na Câmara dos Comuns por Tobias Ellwood, o presidente do comitê seleto de defesa. Levaria muito tempo, disse Johnson, acrescentando que o inquérito de Chilcot levou sete anos e "custou milhões".
Soldados britânicos que serviram poderiam manter suas cabeças "muito altas", sugeriu Carter. Ele prestou homenagem aos soldados que morreram nos últimos 20 anos. O exército britânico agora tinha um novo "ethos de combate" aprendido com a luta em Helmand.
"Eles nunca foram derrotados no campo de batalha",
disse Carter.
FONTE: THE GUARDIAN
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