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Internacional

02 de Abril de 2021 as 21:04:11



DEU no THE GUARDIAN: "Em meio à Tragédia do Brasil, a Esperança é a Perspectiva da Derrota de Bolsonaro em 2022". por CELSO AMORIM


por Celso Amorim
 
À medida que cresce o número de mortes de Covid, o presidente parece estar jogando o País em um abismo de que será difícil escapar.
 
Não é exagero dizer que o Brasil está passando pela crise mais grave de sua história. Com quase 4.000 mortes ao dia e caminhando rapidamente para um número de 500.000 pessoas mortas pelo Covid-19, o Brasil não é apenas o epicentro da pandemia. Tornou-se também terreno fértil para novas variantes do vírus: uma ameaça real ao seu próprio povo e a toda a humanidade.
 
Em meio a uma guerra de saúde pública que está sendo perdida, seu presidente, Jair Bolsonaro, está jogando o país mais profundamente em um abismo, de onde será difícil emergir. Além do sofrimento causado a centenas de milhares, talvez milhões, de parentes e amigos das vítimas, a economia foi mergulhada em recessão, com 14% da força de trabalho condenada ao desemprego.
 
Em contraste com o que aconteceu durante a primeira onda da pandemia, quando o Congresso forçou o governo a distribuir ajuda financeira relativamente significativa a uma grande parcela da população, agora menos pessoas se beneficiarão com quantia menor.
 
É evidente que a recuperação nacional é impossível até que a situação de saúde melhore. No campo da política, onde recentes decisões do Supremo Tribunal Federal exonerando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxeram alguma esperança de retorno à normalidade, o afastamento repentino do ministro da Defesa pelo presidente, além da demissão dos chefes dos poderes das Forças Armadas, jogou o país na incerteza institucional.
 
Rumores indicam que o alto escalão não concordava com as sugestões de Bolsonaro de estabelecer um "estado de sítio", como um possível prelúdio para algum tipo de "auto-golpe", em que ele adquiriria poderes extraordinários.
 
Ainda não está claro como essa crise militar se desenrolará e se algum tipo de golpe ainda pode ocorrer. É mais provável que tal possibilidade permaneça em segundo plano como ameaça permanente a ser usada no caso de processos de impeachment contra o presidente serem iniciados pelo Congresso ou – algo que não esteja fora das cartas – no caso de agitação social crescente, resultado da gestão desastrosa da crise de saúde e da crise econômica.
 
Com seus repetidos avisos sobre o caos iminente, Bolsonaro parece estar conscientemente brincando com uma "profecia autorrealizável", de cujas terríveis consequências ele espera de alguma forma lucrar. O mesmo vale para as constantes ameaças – do próprio presidente ou de alguns de seus associados – de usar a força contra os governadores dos Estados que tomam medidas, como lockdown e toques de recolher, para combater a propagação da pandemia.
 
Ameaças veladas também estão sendo expressas por membros radicalizados dos militares (principalmente aqueles que não estão mais em serviço) e, segundo algumas versões, pelo próprio Bolsonaro.
 
De fato, uma das razões para a animosidade do presidente em relação ao ex-chefe do Exército, Edson Pujol – um general amplamente respeitado de quatro estrelas, considerado ligado à lei e à constituição (um "legalista") – foi sua relutância em seguir a sugestão de Bolsonaro de ele emitir uma declaração crítica sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal que devolveu os direitos políticos de Lula, permitindo que o ex-presidente concorra novamente à presidência da República em 2022.
 
Poucas horas antes do anúncio sobre as mudanças militares, o presidente, sob forte pressão dp Senado, havia demitido o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, cuja conduta desastrosa da diplomacia brasileira era amplamente vista como responsável pela dificuldade em obter as tão necessárias vacinas da China, Índia e EUA.
 
Araújo, no entanto, gozava do apoio de muitos dos sectários de extrema-direita de Bolsonaro, incluindo os filhos do presidente. Sua demissão foi vista como uma derrota em sua relação com Congresso. De certa forma, seu surpreendente movimento contra os chefes militares foi uma forma de mostrar que o presidente mantém a capacidade de tomar a iniciativa. E em uma área extremamente sensível.
 
O que vem depois? Com a queda de sua popularidade, apesar do apoio contínuo de cerca de 30% da população, da perda da simpatia (ou tolerância) do grande capital, para não falar da tão lamentada derrota de seu amigo e guru, Donald Trump, Bolsonaro está preocupado sobretudo com sua sobrevivência política imediata, de olho nas eleições de 2022. Debates sobre se ele emergiu mais forte ou mais fraco da semana passada provavelmente permanecerão inconclusivos.
 
Uma coisa parece certa, do meu ponto de vista: Bolsonaro ficou "menor", principalmente por causa das tensões criadas com as Forças Armadas. Mas ele continua contando com grupos informais, como as milícias, bem como a maioria da polícia militar estadual e grandes setores da população que estão sob a influência de certos ramos das igrejas evangélicas.
 
Acaba de falhar uma tentativa de um de seus apoiadores na Câmara dos Deputados, de aprovação de um projeto de lei que transferia, ao presidente, o controle da polícia dos governadores estaduais, as PMs. Mas outros movimentos ou provocações estão prestes a ocorrer, com consequências imprevisíveis, em meio a uma situação socioeconômica cada vez mais volátil.
 
Tudo isso acontece no contexto da presença crescente de Lula no cenário político nacional e internacional. A possível vitória da esquerda ou da centro-esquerda nas próximas eleições presidenciais está novamente no horizonte. Para muitas pessoas isso significa esperança no meio da tragédia.
 
Celso Amorim foi ministro das
Relações Exteriores do Brasil em
1993-1994 e 2003-2010, e
ministro da Defesa em 2011-2014


Fonte: THE GUARDIAN, Tradução e adaptação, Redação JF





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