Terceiro ministro a sair do governo Bolsonaro, no cargo foi exemplo de dignidade, temperança e respeito às instituições
O ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz deixou o comando da Secretaria de Governo. A saída foi definida no final da manhã desta 5ª feira, 13.06, em reunião de Santos Cruz com Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto e confirmada há pouco pelo Palácio do Planalto, que também anunciou que o general de Exército Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira é quem assumirá a pasta.
Em nota, o porta-voz do governo, Otávio Rêgo Barros, agradeceu o trabalho de Santos Cruz.
"O senhor presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, informa que o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general de Divisão Carlos Alberto dos Santos Cruz, será substituído pelo general de Exército Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira. O presidente da República deixa claro que essa ação não afeta a amizade, a admiração e o respeito mútuo, e agradece o trabalho executado pelo general Santos Cruz à frente da Secretaria de Governo",
afirmou o porta-voz.
Santos Cruz é o terceiro ministro a deixar a gestão Bolsonaro, após as demissões de Gustavo Bebianno (Secretaria Geral) e Ricardo Vélez Rodríguez (Educação).
Santos Cruz se desgastou após ser alvo de ataques extremamente desrespeitosos e de baixo nível, do astrólogo Olavo de Carvalho, em maio último, ratificados pelo filho do presidente, Carlos Bolsonaro, que tem o astrólogo como guru.
O novo ministro é o atual comandante militar do Sudeste. Ramos também atuou como comandante da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti e foi vice-chefe do Estado-Maior do Exército.
Em carta distribuída à imprensa, o agora ex-ministro Santos Cruz disse que deixou o cargo por decisão do presidente da República e agradeceu servidores da pasta, parlamentares, governadores, prefeitos e meios de comunicação, além do próprio Bolsonaro e familiares. Ele também mencionou autoridades do Judiciário e organizações da sociedade civil. A Secretaria de Governo na gestão Bolsonaro tem atribuição de liderar as relações institucionais e federativas do Poder Executivo federal.
Leia a íntegra da carta enviada por Santos Cruz:
CARTA À IMPRENSA
Na oportunidade em que deixo a função de ministro da Secretaria de Governo (Segov) da Presidência da República, por decisão do Excelentíssimo Presidente Jair Messias Bolsonaro, expresso minha admiração e agradecimento:
- A todos os servidores da Segov, pela dedicação, capacidade e amizade com que trabalharam, desejando que continuem com a mesma exemplar eficiência;
- Aos Excelentíssimos Deputados e Senadores, digníssimos representantes do povo brasileiro, pelo relacionamento profissional respeitoso, desejando sucesso no equacionamento e na solução das necessidades e anseios de todos os brasileiros, com especial destaque para o Excelentíssimo Senador Davi Alcolumbre (presidente do Senado Federal) e Excelentíssimo Deputado Rodrigo Maia (presidente da Câmara dos Deputados);
- Aos Governadores e Prefeitos que deram a honra de trazer à Segov suas contribuições;
- À imprensa, de modo geral, pelo profissionalismo que sempre me trataram em todas as oportunidades;
- Às autoridades do Poder Judiciário, Ministério Público e do Tribunal de Contas da União, pela cortesia no relacionamento e nas oportunidades em que tive a honra de travar contato, desejo que sejam sempre iluminados em suas decisões.
- Às diversas instituições e organizações civis, empresas, servidores públicos, embaixadores e todos os cidadãos que travaram contato com o governo por meio da Segov;
- Ao Presidente Bolsonaro e seus familiares, desejo saúde, felicidade e sucesso.
Carlos Alberto dos Santos Cruz
NOTA DA REDAÇÃO JF, em 15.06.2019
As pressões sobre o agora ex-ministro Gen. Santos Cruz foram feitas no sentido da contratação do astrólogo e pseudo-filósofo Olavo de Carvalho. A proposta de Carlos Bolsonaro, levada a Santos Cruz por Fábio Wajgarten, secretário de Comunicação da Presidência da República. Essa contratação seria para Olavo tornar-se apresentador de um programa na emissora de TV da EBC Empresa Brasileira de Comunicação, na TV Escola e também plataformas digitais bolsonaristas.
Em uma primeira tentativa de convencimento de Santos Cruz, levada a Santos Cruz por Wajgarten por determinação de Carlos Bolsonaro, a remuneração de Olavo de Carvalho seria R$ 320 mil mensais. Santos Cruz barrou a contratação. Uma segunda tentativa de Wajgarten elevou a proposta para R$ 400 mil mensais e incorporou a contratação de olavistas na estrutura de comunicação social do governo Bolsonaro. Santos Cruz igualmente barrou.