Conexão Mercado - Abertura em 02.10.2020
Roger Marçal, Gerente
Clara Cerqueira
Elifrancis Braga Almeida,
do BB DIMEF Cenários Financeiros
Mercado Externo
Em dia de payroll, Trump diagnosticado com coronavírus rouba a cena
► No exterior, os mercados amanheceram na cautela, com os investidores avaliando a notícia de que Trump testou positivo para covid-19, a apenas um mês da eleição presidencial. O presidente americano fez o exame após uma assessora próxima (Hope Hicks) ser diagnosticada com a doença.
► Ainda nos EUA, a Câmara aprovou, ontem à noite, um pacote fiscal de US$ 2,2 tri contra o coronavírus, enquanto as negociações bipartidárias com o governo se arrastam. O pacote foi aprovado por 214 votos a 207, com 18 democratas juntando-se aos republicanos na oposição.
► Vale ressaltar que Pelosi (presidente da Câmara) e Mnuchin (secretário do Tesouro) conversaram diversas vezes ao longo da semana, porém sem sucesso, apesar de Mnuchin sinalizar que o governo poderia apoiar um pacote de US$ 1,6 tri (valor superior ao das últimas negociações). Outro ponto que deve ficar no radar é que mesmo que o governo e a Câmara cheguem a um acordo, os republicanos (maioria) do Senado se opõem a injetar um novo volume expressivo de recursos na economia, além de estarem envolvidos nas audiências para apreciar a indicação de Amy Coney Barrett à vaga da Suprema Corte antes da eleição.
► Na Europa, o índice de preços ao consumidor (CPI) da Zona do Euro recuou 0,3% na leitura preliminar de setembro, vindo abaixo da previsão dos analistas (-0,2%). Com isso, o índice fica ainda mais distante da meta de quase 2% do BCE (BC europeu).
► Na agenda do dia, nos EUA destaque para o payroll (relatório de emprego) relativo a setembro além dos pedidos de encomendas à indústria referente à agosto (expectativa de melhora) e índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michingan relativa à setembro. No mais, teremos discursos de membros do Fed (Harker, Kashkari e Rosengren).
► Quanto ao payroll, a expectativa é de uma redução na criação de novas vagas, já refletindo o freio na retomada da economia americana. Será a última contagem antes da eleição presidencial. Além disso, o dado não incluirá as iminentes demissões previstas nas empresas aéreas e na Disney.
► Diante do exposto, acreditamos que a cautela permaneça ao longo de toda a sessão, com os investidores buscando posições mais defensivas após a incerteza adicional acrescentada ao cenário eleitoral americano, Trump com covid-19 e Biden podendo também ter pego. No mais, pesam no cenário a falta de um acordo bipartidário sobre o pacote fiscal nos EUA e o avanço do coronavírus na Europa.
Expectativas para o dia
► Dólar contra: Principais: Alta Emergentes: Alta
► Taxas dos Treasuries: Queda (Contrapontos: surpresa positiva com payroll e acordo entre democratas e o governo sobre o pacote fiscal)
► Commodities: Queda (exceto ouro)
► Bolsas: Queda (Contrapontos: surpresa positiva com payroll e acordo entre democratas e o governo sobre o pacote fiscal)
Mercado Interno
Cautela externa e incertezas fiscais devem ditar o ritmo dos negócios
► No Brasil, os mercados devem adotar uma postura mais defensiva, embora voláteis, em linha com o exterior, e diante das renovadas preocupações fiscais em torno do impasse com as fontes de financiamento do Renda Cidadã.
► O relator da PEC emergencial, senador Marcio Bittar, segue ouvindo sugestões para um novo modelo de financiamento, depois que Guedes anunciou que não vai usar os recursos dos precatórios para financiar o novo programa. Ontem, Bolsonaro em sua live semanal disse que o governo segue a linha de Guedes e que ele “é o cara da política econômica” e que a “palavra final é dele e ponto final”.
► Há quem defenda que o novo programa seja criado sem uma definição exata de onde viriam os recursos, cabendo ao relator e às lideranças encontrar a fonte a partir da revisão das despesas para, aos poucos, liberar espaço no teto de gastos ao novo programa. Algumas lideranças partidárias defendem a revisão dos benefícios atuais.
► Por fim, o Renda Cidadã pode começar apenas com os R$ 35 bilhões já reservados para o Bolsa Família em 2021, diante das dificuldades em se chegar a um consenso sobre quais programas poderiam entrar no alvo da revisão.
► O senador Eduardo Gomes, líder do governo no Senado, afirmou que o veto à desoneração da folha de pagamentos cairá na próxima sessão do Congresso, sem mais discussões sobre contrapartidas.
► O presidente do BC, Campos Neto, disse ontem em uma live que se o teto de gastos for rompido ou se for adotada alguma fórmula de contabilidade criativa para pagar o Renda Cidadã, o “forward guidance” para a taxa de juros será suspenso.
► Na agenda econômica, destaque para o resultado da produção industrial de agosto. As projeções vão de uma alta de 1,30% à 5,10%, com mediana de 3,70%.
Expectativas para o dia
► Dólar: Alta (em linha com as demais moedas emergentes + incertezas fiscais + posição de hedge cambial) -> Contraponto: possíveis atuações do BC + nível técnico.
► Juros: Alta (cautela externa + desconforto fiscal + alta do dólar + comentários de Campos Neto) -> Contraponto: perspectiva de juros baixos por longo período.
► Ibovespa: Queda (seguindo as bolsas globais e commodities + incertezas locais) -> Contraponto: ampla liquidez global + cenário de juros baixos + nível técnico
Fonte: Bloomberg, AE Broadcast, Economática e BB Investimentos
Confira no anexo a integra do relatório preparado a respeito, preparado por ROGER MARÇAL, Gerente, CLARA CERQUEIRA e ELIFRANCIS B. ALMEIDA, do BB DIMEF Cenários Financeiros