AMBEV - Restulado no 4º Trimestre/2020
Volumes de cerveja no Brasil seguem positivos,
mas câmbio e custos pressionam margens; neutro.
A Ambev apresentou resultado misto no 4T20, fortemente impactado pelo reconhecimento de créditos tributários no valor de R$ 4,3 bilhões no período. O EBITDA ajustado alcançou R$ 8,9 bilhões (+29,1% a/a), levando a margem EBITDA a 48,2% (+3,5p.p. a/a).
No entanto, ao excluir os efeitos dos créditos (desempenho orgânico), o EBITDA recuou -0,1% a/a e a margem teve queda de 5 p.p., ficando abaixo das nossas expectativas. O lucro líquido no trimestre foi de R$ 6,9 bilhões (+63,3% a/a). No acumulado do ano, o lucro líquido diminuiu 3,7%, atingindo R$ 11,7 bilhões. O lucro por ação no período foi de R$ 0,72, queda de 3,4%.
Mudança da dinâmica entre canais com impacto no mix de embalagens, somado ao efeito negativo da variação cambial nos custos, pressionam margens em todas as unidades.
O custo dos produtos vendidos teve incremento orgânico de 21,1% no 4T20, fechando o ano com alta de 16,7%, totalizando R$ 8,2 bilhões no 4T20 e R$ 27,1 bilhões em 2020. O indicador foi impulsionado pelo câmbio e pelo mix desfavorável de embalagens, com percentual da participação de latas de alumínio ainda maior que a média histórica, dadas alterações nos canais de venda em decorrência da pandemia do Coronavírus.
A alta nos volumes de vendas no Brasil e na América Latina Sul (LAS), e a expansão das plataformas de entrega direta ao consumidor, também refletiram num maior valor de despesas administrativas gerais, que registraram alta orgânica de 15,1% no 4T20 e de 6,7% no ano. Essa elevação de custos e despesas impactou negativamente as margens de todas as unidades, quando excluímos os efeitos dos créditos tributários.
Brasil e LAS registram aumento de vendas, enquanto CAC e Canadá enfrentam um ambiente mais desafiador. CAC foi a unidade que apresentou a maior queda em volume de vendas no trimestre, -7,4% a/a, impactada pela intensificação das medidas de isolamento social, com restrição à venda de bebidas alcóolicas. Canadá registrou queda de 0,1%, também em função das restrições e fechamento do canal on-trade.
O destaque positivo ficou com o Brasil, onde houve flexibilização das medidas de isolamento social e prorrogação do pagamento de auxílio emergencial, o que gerou um aumento de 10,6% nas vendas. Na LAS, volumes também registraram alta em decorrência da reabertura gradual da economia, chegando a 6,2% a/a.
Desempenho das ações e perspectivas.
O setor de bebidas tem sido um dos mais impactados com a pandemia do Coronavírus e a consequente restrição à circulação de pessoas, bem como o funcionamento de bares e restaurantes.
O desempenho das ações da Ambev reflete o momento de cautela do investidor face a esse cenário, com o papel registrando queda de 3,58% nos últimos 12 meses e -10,42% em 2021, desempenho inferior ao do Ibovespa.
A Ambev vem investindo em inciativas para reduzir o impacto do isolamento social em seus resultados, adotando plataformas digitais, mix de produtos mais robusto e esforços de marketing.
Adicionalmente, sua liquidez segue preservada pela forte posição de caixa e a empresa segue comprometida com pagamento de dividendos. Ainda assim, a Ambev deve continuar enfrentando um cenário desafiador à frente, considerando:
(i) um ambiente competitivo mais difícil internamente, dadas as divulgações recentes da parceria entre Heineken e Coca-Cola na estratégia de distribuição no Brasil;
(ii) o contexto macro desfavorável, com perspectiva de desemprego e redução de renda no país; e
(iii) variação cambial e preços de commodities, com reflexos nos custos, pressionando margens.
De fato, a empresa mencionou em sua teleconferência de resultados que a pressão de custo poderá ter um incremento entre 20% e 23% em 2021. Em nossa opinião, o papel deve reagir com mais força e ganhar impulso apenas quando tivermos maior visibilidade quanto à vacinação da população e o fim das medidas isolamento social. Assim, seguimos conservadores quanto ao nome, mantendo nossa recomendação Neutra para ABEV3.
Confira no anexo a integra do relatório a respeito, elaborado por
VICTOR PENNA e MARIANA LONGOBARDO, do BB Investimentos