PIB desmorona e política de Guedes ficará em 'sinuca de bico' após epidemia
Com queda do PIB em função do coronavírus, governo ficará dividido entre "necessidade" de "expansão de gastos" e liberalismo de Paulo Guedes, disse à Sputnik Brasil a economista Esther Dweck.
Estimativa do governo anunciada nesta semana aponta uma queda histórica do PIB de 4,7% em 2020. A projeção anterior, de março, era de alta de 0,02%.
Além disso, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), considerado uma prévia do PIB, registrou uma queda de 5,9% em março em comparação com o mês anterior.
Para Dweck, professora do IE-UFRJ Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a estratégia para mitigar os efeitos da crise do coronavírus passa por políticas de transferência de renda para a população e de crédito para empresas, assim como ajuda para estados e municípios.
Medidas que, se fossem propostas antes da epidemia para a equipe ultraliberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, seriam rapidamente rechaçadas.
"O governo vai estar numa sinuca de bico. Por um lado, vai perceber a necessidade de fazer algum tipo de medida de retomada da economia, o que significaria a expansão dos gastos. Por outro, existe a pauta pela qual o governo foi eleito, bastante liberal. E o governo depende do Guedes para se sustentar, porque ele é parte do apoio que o governo tem para aplicar reformas [como da Previdência, por exemplo]",
afirmou a especialista.
Caminho do ajuste fiscal
Ao chegar à encruzilhada, Dweck aposta qual caminho o executivo irá escolher.
"Umas das coisas mais graves anunciadas pelo Guedes é que para sair da crise vamos precisar de mais reformas, reformas que na verdade destroem todos os instrumentos que temos de desenvolvimento",
disse a coordenadora do Grupo de Economia do Setor Público do IE-UFRJ.
Teto de Gastos Públicos
Além disso, ela lamenta que a equipe econômica do governo tenha se comprometido com a "retomada, a partir do ano que vem, da Emenda Constitucional nº 95", que estabeleceu um teto de gastos públicos durante 20 anos.
O limite imposto pela lei, que segundo críticos praticamente congelou o investimento público em áreas como saúde e educação, está sendo inevitavelmente furado pela situação de calamidade gerada pela pandemia.
De acordo com Dweck, esse caminho "vai trazer uma crise econômica forte" e a perda de "apoio" ao governo, o que pode levar Guedes a deixar seu cargo, seja por "conta própria" ou porque a situação ficou "insustentável".
A especialista, que discorda "totalmente da ideia de que a economia brasileira estava decolando" antes da crise do coronavírus, devido à estagnação do "PIB per capita" e por apostar em uma "ideia errônea" de que o ajuste fiscal traria por si só um boom de investimento, coordenou estudo com três cenários pós-epidemia.
Três cenários após a pandemia
No mais otimista, o relatório prevê queda pouco maior de 3%, no intermediário e no pessimista, para ela os mais prováveis, as projeções são de queda de 6% e 11%, respectivamente.
"Os três panoramas envolvem tanto fatores domésticos quanto externos. Em parte, o próprio governo vai determinar o tamanho dessa queda. Nos fatores domésticos, por um lado, o que mais conta é ter um isolamento social bastante eficaz, o que reduziria o tempo de isolamento, o que não é o que esta acontecendo hoje. Por outro, são as politicas de mitigação dos efeitos econômicos por meio da transferência de renda para a população e garantias de créditos para as empresas, além da transferência de recursos para estados e municípios",
afirmou a professora Dweck.