Ford demite 5.000 trabalhadores, deixa de produzir automóveis no Brasil e importará modelos produzidos na Argentina e Uruguai
A Ford anunciou nesta 2ª feira, 11.01, que encerrará a produção de veículos em suas fábricas no Brasil, onde se encontra há mais de um século, desde 1919. A Empresa manteve até então fábricas de automóveis em Taubaté-SP e em Camaçari-BA, além de Horizonte-CE, onde produzia a linha de jipes da Troller.
A direção da Empresa informou que serão mantidos na Bahia seu Centro de Desenvolvimento de Produto, e, no estado de São Paulo, sua sede administrativa para a América do Sul, além do campo de provas.
Capacidade Ociosa e anos de perdas
A Empresa alega em comunicado que a decisão foi tomada em razão de a pandemina de Covid-19 ampliar a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução as vendas, "resultando em anos de perdas significativas".
A reestruturação das atividades da Empresa na Argentina e no Brasil implicará na redução de 5 mil empregos diretos em nosso País, enquanto a Argentina passará a produzir modelos destinados ao mercado brasileiro. A empresa mantém 6.171 funcionários no Brasil.
Até então a Ford produzia os modelos EcoSport e Ka, além de motores e transmissões, em sua fábrica em Camaçari-BA, fechada desde já; enquanto a fabrica em Horizonte-CE, responsável pela produção do modelo Troller, será fechada no 4º trimestre deste ano.
Os modelos nacionais terão suas vendas interrompidas tão logo terminarem os estoques, contudo, a Ford garante que todos os clientes terão asseguradas a garantia e assistência de manutenção.
Importações da Argentina para o Brasil
O Brasil passará a ter modelos importados, principalmente das unidades de Argentina e Uruguai, além de outras regiões fora da América do Sul. A montadora confirma a venda ao mercado brasileiro de seus novos modelos Transit, Ranger, Bronco e Mustang Mach1.
Reestruturação global
De acordo com a Ford, o fechamento das fábricas no Brasil é mais um passo de seu processo de reestruturação global.
“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”,
declarou Jim Farley, presidente e CEO da Ford.
“Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global”,
completou.
No ano passado, a Ford vendeu 119.454 automóveis no Brasil, segundo dados da Anfavea. O resultado representou uma queda de 39,2% na comparação com 2019. A queda observada foi maior do que a registrada pelo segmento de automóveis. Em 2020, o tombo foi de 28,6%, para 1.615.942.
Encerramento em São Bernardo do Campo
No Brasil, o primeiro passo da reestruturação, em 2019, foi o encerramento da produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), depois de 52 anos. Em outubro, foi concluída a venda da fábrica do ABC paulista para a Construtora São José e com a FRAM Capital.
Como consequência, a marca deixou de vender no Brasil o Fiesta, um de seus modelos de maior sucesso, e abandonou o mercado de caminhões na América do Sul. A fábrica da Ford empregava 2.350 funcionários e, desses, apenas mil, que são da área administrativa, foram mantidos.
Em nota, a companhia afirmou que, entre os potenciais compradores, priorizou durante a seleção os projetos que melhor atendessem às necessidades da região, comemorou a transação e agradeceu aos envolvidos no negócio.
Impactos no mundo
O plano de reorganização da empresa também afetou outros países nos últimos anos. Foram fechadas fábricas na Austrália, após 91 anos no país, e na França, em Blanquefort. Na Europa e EUA, a montadora anunciou demissões em 2019.
Repercussão
A ANFAVEA, a associação das fabricantes de veículos, disse que não vai se pronunciar sobre o encerramento das atividades.
“A Anfavea não vai falar sobre o tema, trata-se de uma decisão estratégica global de uma das nossas associadas. Respeitamos e lamentamos. Mas isso corrobora o que a entidade vem alertando há mais de um ano sobre a ociosidade local, global e a falta de medidas que reduzam o Custo Brasil”,
declarou a ANVAFEA em nota.