VALE - Resultado no 1º Trimestre de 2.019
Primeiros efeitos de Brumadinho; misto
A Vale apresentou seus resultados do 1T19 na noite passada, 10.05, com os primeiros impactos de Brumadinho. Os resultados do 1T vieram cheios de não-recorrentes, tornando difícil a comparação com os trimestres anteriores. A empresa trouxe um EBITDA negativo pela primeira vez em sua história. O EBITDA somou negativos US$ 652 mm e foi composto, dentre outras coisas, por estes principais fatores:
(i) impacto financeiro de Brumadinho na casa de US$ 4.954 mm,
(ii) menores volumes de MF e pelotas e
(iii) novos procedimentos de gerenciamento de estoque nos portos chineses que afetaram o reconhecimento de receitas.
Além disso, tivemos os efeitos contáveis da IFRS 16, os quais adicionaram US$ 1.764 mm na linha “arrendamentos” no BP da companhia.
Apesar dos efeitos financeiros, operacionalmente falando, a Vale manteve as vendas de produtos premium em 81% de seu portfólio, com prêmios pagos por seus produtos ficando em US$ 10,7/t. Entretanto, vimos que os prêmios pagos pelos finos de MF decresceram para US$ 5,6/t dos US$ 8,1/t no 4T18, voltando aos níveis do 1T18, prejudicando um ano todo de trabalho duro da empresa para diferenciar seus produtos.
Saber quão eficiente a Vale será em blendar seus produtos em todos os seus sistemas e qual será seu novo mix ajudará a determinar o prêmio acima do padrão IO62% a ser pago por seus produtos de maior qualidade. Acompanharemos estas métricas de perto, tendo em vista que boa parte da nossa tese de investimentos é baseada na qualidade diferenciada dos produtos da empresa.
O EBITDA da Vale ex-Brumadinho ficou em US$ 4,101 mm no trimestre, 8,4% abaixo das nossas estimativas e 8,2% menor que o trimestre anterior. Na comparação anual, houve aumento de 3,3%.
Outperform
Por ora, mantemos nosso TP 19E para Vale US em US$ 16,0/ação e para VALE3 em R$ 62,00/ação e mantemos o rating em Outperform, enquanto ajustamos o modelo para inserção dos reais impactos divulgados no 1T19.
Brumadinho: efeitos diretos e indiretos.
Como mencionamos, os resultados do 1T tiveram os efeitos de US$ 4.954 mm de Brumadinho. A seguir, repetimos os detalhes apresentados pela companhia:
(i) US$ 2.423 mm de provisões para compensações/remediações,
(ii) US$ 1.855 mm para o plano de descomissionamento,
(iii) US$ 104 mm de despesas diretamente ligadas a Brumadinho,
(iv) US$ 290 mm em volumes perdidos,
(v) US$ 160 mm de despesas com paradas e
(vi) US$ 122 mm em outros.
Lembramos que, conforme informado pela empresa na conferência com analistas, estes valores não comtemplam
(a) indenizações ambientais,
(b) gastos com barragens fora do escopo da Vale e
(c) indenizações coletivas.
Minerais ferrosos: prêmios de finos de MF caindo.
As vendas de produtos premium representaram 81% do portfolio da Vale, ante 84% no 4T18. Os prêmios pagos pelos produtos da Vale neste segmento ficaram em US$ 10,7/t comparado aos US$ 11,5/t no 4T18 e US$ 7,6/t no 1T18, com pelotas contribuindo fortemente para estes valores.
Os preços realizados CFR/FOB ficaram em US$ 81.1/t no período, enquanto o Platts MF-62% ficou em média US$ 82,1/t. Os volumes vendidos, entretanto, caíram consideravelmente no trimestre, como mencionado no nosso relatório de produção e vendas.
Consequentemente, as receitas do segmento somaram US$ 6.343 mm, 17% abaixo t/t e 3% menor a/a. O custo caixa C1 foi de US$ 14/t, impactado por menor diluição de custos fixos devido ao menor volume sazonal. Os custos de frete mantiveram a tendência de queda e ficaram em US$ 16,8/t no trimestre ante US$ 18,8/t no 4T18. Houve também os efeitos de
(i) novo sistema de gerenciamento de estoques nos portos chineses, afetando o reconhecimento de receitas,
(ii) paradas operacionais em Brumadinho e
(iii) impacto do clima nas vendas.
O EBITDA ajustado, assim, ficou em US$ 3.602 mm, queda de 12% t/t e 9% abaixo das nossas estimativas.
Metais Básicos: valor a volume.
Durante o trimestre, os menores volumes vendidos juntamente com maiores custos impactaram negativamente os resultados da divisão. A estratégia da empresa de focar em valor a volume é baseada na crença de que a demanda futura de níquel deverá crescer com o mercado de VEs, assim, ela tem preservado volumes para condições de mercado mais favoráveis no futuro.
Os preços médios da Vale para níquel no 1T19 ficaram 1.6% maior que os da LME. Já para cobre, os preços realizados foram 3,3% menor.
Consequentemente, as receitas somaram US$ 1.451 mm no trimestre, 10% menor t/t e 11% abaixo a/a. O EBITDA veio em US$ 505 mm (17% abaixo das nossas estimativas.
Carvão: volumes menores afetam resultados.
Os volumes retraíram 30% t/t. Os preços realizados apresentaram movimentos mistos com carvão termal caindo, ao passo que carvão metalúrgico avançou no período. As receitas somaram US$ 333 mm no 1T19, 31% menor que o trimestre anterior. O CPV somou US$ 423 mm, influenciado por menor diluição de custos fixos. Assim, o EBITDA totalizou negativos US$ 69 mm, contra positivos US$ 16 mm no 4T18.
Endividamento.
No período, a dívida bruta ficou em US$ 15.466 mi, 8% abaixo de set/18. Quanto à dívida líquida, a redução foi de 10% t/t, totalizando US$ 9.650 mi, abaixo da meta da Vale de US$ 10 bi para 2018.
O atual nível de alavancagem (0,6x dívida líquida/EBITDA) coloca a companhia em uma posição confortável, caso a empresa necessite de recursos para enfrentar os custos decorrentes dos impactos de Brumadinho.
Confira no anexo a íntegra do estudo preparado por GABRIELA E. CORTEZ, Analista Senior do BB Investimentos