Gustavo Petro e Francia Marques vencem as eleições da Colômbia
domingo, 19.06.2022
Aos 99,9% dos votos computados na eleição presidencial em segundo turno da Colômbia, neste domingo, 19.06, Gustavo Petro é matematicamente vencedor com 50,5% dos votos contra 47,3% do político de extrema-direita, Rodolfo Hernandez. No primeiro turno, em 29.05.2022, Gustavo Petro havia também derrotado outro candidado de extrema-direita Federico "Fico" Gutierrez.
Em uma eleição sem incidentes ou indicativos de fraude, Gustavo Petro tornou-se o primeiro presidente de esquerda eleito em seu país. Senador e ex-prefeito de Bogotá, o economista traz em seu curriculum ter integrado o grupo guerrilheiro M-19. Já era celebrado como favorito nas eleições presidenciais, com mais de 40% da preferência popular, desde a campanha realizada no primeiro turno.
Atualmente, seu perfil tende à social-democracia genuína, nacionalista, não aderente ao Consenso de Washington, aos ditâmes do império americano, ao liberalismo econômico e privatismo, que operam em favor do interesse de empresas multinacionais.
Em sua plataforma política, propostas de grandes mudanças econômicas e sociais destinadas ao combate ao desemprego e à promover o desenvolvimento econômico-social, o bem-estar da população, a extinção da miséria e da fome. E, também, programas sociais e a concessão de pensões, universidade pública gratuita, reforma agrária, tributação do latifúndio improdutivo, tributação dos mais ricos e combate à desigualdade social.
Essa agenda é taxada como "esquerdista" e causa horror aos agentes do mercado financeiro, à elite e a Washington, que têm classificado investimentos em educação, saúde, saneamento e habitação popular como desperdício incompatível com a boa saúde das finanças públicas.
Francia Márquez, a vice eleita
Contudo, o candidato pela terceira vez à presidencia da Colômbia, ora vencedor, Gustavo Petro traz consigo um doce aceno: sua vice-presidente eleita Francia Márquez, advogada, combativa e corajosa ativista do meio ambiente e dos direitos humanos, negra e ex-empregada doméstica, ao gosto da nova esquerda latino-americana e, principalmente, de perfil retoricamente aprovado por Washington de Joe Biden.
Esgotamento de Regimes Liberais Autoritários
A eleição de Gustavo Petro reflete o esgotamento dos regimes políticos de direita e ultra-direita da América do Sul, de liberalismo exacerbado e pró-Washington. Essa reversão política em favor da esquerda já pôde ser observada na Bolívia, na Argentina, no Chile e, agora, na Colômbia, onde o atual presidente Ivan Duque sequer conseguiu apoio para a reeleição por carregar a decepção popular expressa pelo índice de rejeição de 77,0%, provavelmente também originado pelaa sangrenta repressão policial contra a greve geral de 2021 e contra as manifestações do povo colombiano nas ruas, de que resultaram centenas de mortes e prisões, até hoje mantidas.
"Não é uma mudança para se vingar, não é uma mudança para construir mais ódios, não é uma mudança para aprofundar o sectarismo na sociedade colombiana",
estas foram as primeiras palavras do presidente eleito, que dias atrás exortou a classe política opositora e a elite a um acordo nacional para deixar para trás as disputas passadas, ao ponto de ter convidado seu maior rival histórico Álvaro Uribe para a Casa de Nariño (residência presidencial), e Rodolfo Hernández, o candidato ora derrotado.
"Não é matar uns aos outros. É amar um ao outro",
acrescentou.
"Para defender a democracia, é necessário cumpri-la.
Gustavo Petro é o Presidente.
Que um sentimento nos guie: Primeiro Colômbia",
escreveu Uribe, em resposta no Twitter.
"A Colômbia sempre contará comigo."
respondeu também o candidato derrotado Rodolfo Hernández, oferecendo seu apoio.
"Concordamos em nos reunir nos próximos dias para iniciar uma transição harmoniosa, institucional e transparente".
atendeu ao apelo Iván Duque, o atual presidente colombiano.
Experts acreditam que a ascensão de Petro ao poder começou a tomar forma quando as FARC deitaram suas armas e se reintegraram à vida civil, nos célebres acordos de paz de 2016. Naquela ocasião teria sido aberto o caminho para uma opção progressista de governar um país tradicional, na qual se depositam a partir de hoje grandes esperanças populares.