Manifestantes em ato no Rio acompanham votação com gritos de “não vai ter golpe”
Uma multidão acompanha, na Lapa, no centro da cidade do Rio de Janeiro, a votação da aceitação ou não do pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff com confiança de que a Câmara não vai aprovar o pedido. E o local está cada vez mais cheio e eles gritam a todo momento “não vai ter golpe”.
Os manifestantes vaiam os parlamentares que votam a favor e aplaudem os que votam contra. Eles tiveram o mesmo comportamento durante os discursos dos deputados. Contra a aceitação do pedido, as pessoas aplaudiram e vaiaram os discursos à medida que os deputados antecipam seus votos e a orientação dada aos membros das bancadas.
Desde o inicio da tarde, o ato Viradão pela Democracia atrai simpatizantes à manutenção da presidenta Dilma no cargo. Muitos vestidos de vermelho, com bandeiras de centrais sindicais como as da CUT Central Única dos Trabalhadores e da CTB Central dos Trabalhadores Brasileiros assistiram os discursos, transmitidos em um telão, embaixo dos Arcos da Lapa. As falas são, por vezes, interrompidas por aplausos, ou por vaias e gritos de "fora Cunha", em referência ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), réu na Operação Lava-Jato e suspeito de ter recebido 52 milhões em propina e de ter contas ilegais no exterior.
Moradora da zona norte do Rio de Janeiro, a professora Patricia Pagu, de 36 anos, disse que está em curso um golpe para tirar a presidenta do poder. Na avaliação dela, não houve um crime de responsabilidade que justifique o impeachment.
"Querem tomar o governo de assalto, sem precisar passar por uma eleição, isso não está na Constituição",
disse ela, que se disse muito angustiada e ansiosa para acompanhar a sessão de casa e preferiu sair às ruas.
A professora Maria Costa, de 60 anos criticou a condução do impeachment pelo presidente da Câmara.
"Ele já foi mais que denunciado, não tem condições de conduzir esse processo".
Ela disse que Cunha aceitou o pedido de impeachment no mesmo dia em que o PT anunciou votar pela casação do parlamentar no Conselho de Ética.
Nos bares da Lapa, centenas de pessoas também acompanham a votação, de televisões ligadas na TV Câmara e na TV Brasil. Os clientes têm pedido aos donos de bares para mudar a programação, quando o canal está sintonizado em outra emissora.
"A gente não aguenta ficar em casa",
disse a aposentada Regina Soares.
A expectativa é que as pessoas permaneçam na Lapa para acompanhar toda a votaçao no Congresso. No momento, a temperatura é amena, a maioria das pessoas está em pé, em frente ao telão, outras, sentadas no chão, em cangas, no gramado e até em cima dos arcos, para ter um ângulo privilegiado dos telões ou simplesmente descansar, em meio a longa sessão.
"Só saio daqui quando acabar",
disse a estudante Paula Freita, de 27 anos.
Participam pessoas de várias idades. São vistas familias com crianças, idosos e muitos jovens. Um grupo chegou a colocar faixas em cima dos arcos, onde passam os bondes em direção ao bairro de Santa Teresa, em uma iniciativa bastante perigosa.