por Wilson R Correa
Impulsionada pelo socorro aos bancos falimentares ocorrido nos anos de 2008, 2009 e 2010, a dívida pública dos países da zona do euro supera 90% do PIB.
E a verdade nua é que jamais haverá orçamento fiscal com capacidade suficiente para cobrir os rombos do orçamento monetário provocados pela quebra dos bancos. E isso é explicado pela capacidade de geração de moeda do sistema financeiro, que em muito supera a capacidade dos governos de cobrar impostos.
Diante desse quadro, o discurso fácil dos financistas permanece na ladainha desavergonhada de contenção dos gastos para o pagamento de dívidas públicas forjadas pelo golpe dos bancos, ludibriando a opinião pública sobre as origens do endividamento do Estado, atribuindo-o à ação perdulária dos governos em seguro desemprego, bolsas de estudo aos estudantes carentes, seguro saúde e aposentadorias.
Com esse discurso hipócria, é evidente que os financistas têm por objetivo a recuperação de seus investimentos em títulos privados adquiridos a elevados preços irreais e manipulados por fraudadores, no auge da especulação financeira. Esses títulos permanecem nas tesourarias dos bancos, que aguardam mecanismos estatais de compra sem desagio, a guiza de apoiar a recuperação das instituições financeiras.
Nessa trajetória, o corte dos gastos com aposentadorias, educação e saúde, com benefícios sociais e com o welfare state -- almejado desde os anos 70 pela plutocracia conservadora, ansiosa pela reposição do patrimônio delapidado pela debacle de 2007-08 -- os estados europeus seguem a linha das políticas de desinvestimento publico, de desemprego e de recessão, em apoio ao rebaixamento dos salários e a elevação das margens operacionais empresariais, levando os países da periferia européia ao fortalecimento do sistema financeiro e de sua estratégia de hegemonia dos interesses do mercado.
A última estatística disponível, de agosto/2012, indica 18,2 milhões de desempregados em toda a Europa do Euro, o mais elevado índice desde o início deste levantamento, em 1995.
A Espanha atingiu 25% de desemprego da mão de obra neste outubro/2012, levando ao êxodo de cerca de 800.000 trabalhadores. Na França, 10,2%, índice máximo nos últimos 13 anos. Na Grécia, 24,4%, dados disponíveis de junho último. Em Portugal, 15,9% em agosto e em ascenção. Na Irlanda, 14,8%, com dados de setembro último. Na Itália, 10.7%, índice divulgado em setembro.
As perspectivas sombrias para a Europa do Euro ainda não demoveram as autoridades da estratégia ortodoxa de desmobilização dos investimentos, da ativação da economia e da geração de empregos.
Os sinais vindos da Europa evidenciam que a estratégia dos países da Comunidade do Euro corre na mesma direção da recuperação econômica dos EUA: rebaixamendo dos salários até o nível em que se pode observar a elevação da produtividade e dos lucros empresariais, exclusivamente, sem quaisquer preocupações com a recuperação do nível do emprego. Aí entra o Estado com os seus Quantitative Easing (QE) desvalorizando a moeda e obtendo ganhos de competitividade e favorecendo a demanda externa e as exportações, que poderão promover a elevação do nível do emprego.
Futuro de muita comoção na Europa em 2013, mobilização de trabalhadores, greves e luta sindical. Complicado passar férias em Paris, Madrid ou Roma.