Foto do rival de Merkel com o dedo médio erguido, um gesto pouco tolerado no país, divide alemães e se mostra politicamente arriscada para um candidato marcado por gafes. Pesquisas sugerem disputa acirrada nas urnas.
A cerca de uma semana das eleições alemãs, a disputa entre a atual chanceler Angela Merkel e seu opositor, Peer Steinbrück, não conseguiu despertar o interesse nem da população. Contudo, algo aconteceu.
Se um gesto pode decidir uma eleição, como manchetou categórico o jornal conservador Die Welt em seu site, ainda não se sabe. Mas ele tem, sim, capacidade de movimentar uma campanha até então marcada pelo marasmo, e de dar-lhe novo viço, a nove dias da ida às urnas.
Nesta 6ª feira, 13.09, o principal adversário da chanceler federal Angela Merkel nas eleições legislativas, Peer Steinbrück, do Partido Social Democrata (SPD), causou alvoroço ao aparecer com o dedo médio em riste na capa da revista de um dos jornais de maior tiragem do país, o Süddeutsche Zeitung.
A foto é parte de uma seção da revista em que o entrevistado responde apenas com gestos. O dedo erguido foi a resposta do candidato à pergunta sobre se ele se importava com a série de apelidos que fora ganhando ao longo da campanha, como "Peerlusconi" ou "Peer-Problema".
Polêmicas em série
Por si só polêmica, a foto ganhou ainda mais relevância num país onde o gesto é pouco tolerado. Em 1994, o então astro do futebol Stefan Effenberg foi cortado da Copa do Mundo dos Estados Unidos por exibir o dedo médio aos torcedores. Quem faz o mesmo no trânsito pode pagar multa de até 4 mil euros.
"Foi um risco calculado, ou só mais um, talvez decisivo, erro às vésperas das eleições?",
questiona o jornal conservador Frankfurter Allgemeine Zeitung.
Na entrevista, o candidato a chanceler respondia às perguntas através de gestos. O próprio Steinbrück autorizou a publicação da foto, apesar das insistentes advertências de seus assessores. O que ele não sabia, porém, é que ela estaria estampada na capa da revista.
"Bonus feminino", a popularidade de Merkel
A decisão pode custar caro a um candidato que muitos acusam de não possuir o autocontrole necessário para ser chefe de governo. Sua campanha foi até aqui marcada por uma série de gafes.
Desde finais do ano passado, o social-democrata causou polêmica, por exemplo, ao dizer que só consumia vinhos de mais de cinco euros e por reclamar que o salário de chanceler federal na Alemanha, de 220 mil euros anuais, era baixo demais. Também incomodou muitos ao atribuir a popularidade de Merkel a um "bônus feminino".
"Isso não pode ser o estilo de um chanceler federal"
A polêmica desencadeada nesta 6ª feira não demorou a ser politizada por seus adversários. Philipp Rösler, chefe do Partido Liberal Democrático (FDP) e provável parceiro de Merkel numa coalizão de governo, considerou o gesto "inadmissível" para um candidato ao governo.
O ministro da Saúde Daniel Bahr, correligionário de Rösler, manifestou-se de forma parecida: "Isso não pode ser o estilo de um chanceler federal".
"Qualquer um que faça tal coisa antes de uma eleição realmente não quer vencer",
disse, por sua vez, o deputado Wolfgang Bosbach, do partido de Merkel, a União Democrata Cristã (CDU).