A Rede, grupamento político de Marina Silva, deu a ela aval para apoiar a candidatura de Aécio Neves. Isso aconteceu na noite desta 3ª feira, 07.10, em reunião da Executiva da Rede.
A tese central do grupamento é de que o atual governo não deve continuar, por isso a adesão à candidatura de Aécio. Até o momento, não há informações sobre lista de exigências políticas e estratégias de governo para condicionar essa adesão. Por isso, é provável que, ao anunciar seu apoio a Aécio, Marina e a Rede não deverão estabelecer "condicionantes" para tal, mas apenas "recomendações", para guardar coerência com o discurso da necessidade de uma "nova política" e de sedimentar relações partidárias entre "os bons".
A escolha de Marina tornou-se previsível em razão das diferenças alimentadas ao longo de anos de convivência no ministério, relativas às perspectivas de cada uma em relação à política do governo Lula. A despeito de Dilma Rousseff, no 2º turno das eleições presidenciais de 2010, ter apresentado plena concordância com as condições propostas por Marina da Silva de para dar-lhe seu apoio contra Serra.
Independência da Rede e busca de hegemonia no PSB
O apoio da Rede a Aécio afirma a independência da Rede em relação ao PSB, o partido que acolheu a candidatura de Marina Silva. Poderia para alguns estar representando, também, a pouca conta que a Rede teria pelo PSB. Mas, na realidade, a Rede está afirmando sua hegemonia sobre o PSB dentro do PSB; e jogando com a possibilidade de impor seus integrantes na formação da nova Executiva a ser eleita em 13.10.
O PSB, por sua vez, reunirá sua Executiva em Brasilia, nesta 4ª feira, 08.10, para definir seu apoio à candidatura de Aécio Neves ou de Dilma Rousseff, no 2º Turno das eleições presidenciais.
A julgar pelo presidente do PSB, Roberto Amaral, o apoio irá para Dilma Rousseff. Este sinal foi dado ao público em entrevista à TV Bandeirantes, neste último domingo, 05.10, no programa Canal Livre, em que Amaral mencionou que Minas Gerais não elegeu o candidato do PSDB em razão de bem ter conhecido Aécio Neves.
Roberto Amaral, contudo, não adianta sua posição e atribui à Executiva do Partido a exclusividade da decisão. Nesse sentido, seu comportamento na Band poderá ter sido uma prestação de contas prévia ao PT, uma vez que chegou a compor o governo Dilma como integrante do conselho da Itaipú Binacional. Isso poderia garantir-lhe presença em um possível governo Dilma.
Por outro lado, setores do PSB têm preferência pela candidatura de Aécio e determinante nessa definição será a posição a ser expressa por Renata Campos, a víuva de Eduardo Campos, ex presidente do Partido e cabeça da chapa herdada por Marina.
Renata Campos, figura tornada importante no Partido, viúva de Eduardo Campos, ainda deverá anunciar publicamente a quem dirigirá seu apoio. Por muitas razões, espera-se que deva apoiar Aécio Neves: sua amizade com Marina, a amizade entre Aécio Neves e Eduardo Campos, e o apoio de Marina recebido por Renata, evidente nos funerais de Eduardo Campos, enquanto que Dilma Rousseff ali permaneceu por pouco tempo.
E de se considerar, também, a importância da decisão de Renata por razões pessoais, relativas ao apoio de que poderá vir a necessitar no já conturbado processo de identificação de responsabilidade e de indenização das vítimas da queda do avião em que faleceu seu marido.
O interessante é que, nesta 4ª feira, 08.10, deverá sair a decisão da Executiva do PSB; mas, em 13.10, deverá ser eleita uma nova Executiva do Partido. Se, por um lado, a atual Executiva talvez possa ter seu poder em situação de ocaso e porisso tornar-se sensível à posição do presidente do Partido, por outro lado, seus membros atuais somente serão eleitos, em 13.10, caso reflitam a opinião das bases do Partido.
Reconstrução da identidade partidária
De qualquer modo, esse momento é especialmente importante ao PSB, em termos de formulação de identidade partidária própria, nesse pós perda de seu presidente.
Caso opte por não apoiar a candidatura de Aécio, o Partido poderá assistir sua própria cisão, seus deputados e senadores poderão seguir Marina e filiar-se à Rede, quando se oficializar como Partido, mas, principalmente, poderão formar base de apoio a um possível governo Aécio.
Ou, por outro lado, caso o PSB venha a aderir oficialmente à candidatura de Aécio Neves, Marina ficará pouco confortável em sair do PSB, será mantida como personalidade importante e poderosa no Partido, com poder inclusive para direcionar as escolhas da nova Executiva do Partido, no próximo dia 13.10; e, se vitoriosa a candidatura de Aécio, membros do Partido poderão ter presença em cargos de gestão em um possível governo Aécio.
Apoio de Marina no 2º Turno
Alem desses fatores relativos à construção da identidade partidária e ao surgimento de nova liderança de projeção nacional, o País acaba de sair do 1º turno das eleições presidenciais, o PSB precisará de apoio para eleger suas candidaturas em 2º turno e do apoio pessoal de Marina aos candidatos do PSB. Acrescente-se que são muito recentes as marcas da luta de desconstrução de Marina, ora convenientemente atribuídas com exclusividade ao PT.
Por essas razões é bastante provável que o PSB vote, nesta 4ª feira, a adesão à candidatura Aécio Neves, seguindo a onda dos pequenos partidos que já aderiram.
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