PETROBRAS - Mudança na política de dividendos
Um acerto que ajuda a sustentar a tese de investimento; mantendo compra
Por Daniel Cobucci, CNPI
31.07.2023
A Petrobras anunciou, na 6ª feira, 28.07, uma mudança relevante em sua política de dividendos, reduzindo o percentual de pagamento de 60% para 45%, e modificando a fórmula para referência no Fluxo de Caixa Livre, ou FCL (antes Fluxo de Caixa Operacional menos CAPEX).
E por que entendemos o anúncio como positivo? Porque, como comentamos anteriormente, havia basicamente três possibilidades para promover a alteração:
1) manter a regra ligada ao fluxo de caixa, como acabou sendo feito;
2) criar nova regra vinculando ao lucro líquido;
3) eliminar a regra anterior e não criar uma vinculação para pagamento de dividendos, o que deixaria o piso nos 25% do mínimo legal e reduziria a previsibilidade para os investidores.
Da forma como foi anunciado, entendemos que a mudança cria um meio termo bastante razoável em manter um bom pagamento de dividendos, alinhado à média do setor, que também costuma utilizar o fluxo de caixa como referência para os dividendos.
Outra mudança alinhada às práticas do setor foi a inclusão da possibilidade de remunerar os investidores via recompra de ações, medida que empresas como Shell, Repsol e TotalEnergies anunciaram na semana passada, mesmo com forte queda em seus resultados.
Outras mudanças importantes do comunicado:
1) estabelecimento de uma remuneração mínima anual de US$ 4 bilhões, desde que o preço médio do Brent seja superior a US$ 40/bbl no exercício, independentemente do nível de endividamento;
2) o endividamento segue sendo uma variável para permitir o pagamento de dividendos, mas agora o teto será definido pelo plano estratégico, e não mais fixo na política. É uma mudança que permite alterações anuais no valor do teto, sem que seja necessário modificar a política de dividendos. Atualmente o valor de endividamento máximo é de US$ 65 bilhões, e o endividamento da Companhia é de ~US$ 51 bilhões.
3) O conceito de investimentos passa a incluir aquisições de participações acionárias (aportes, adiantamentos para futuro aumento de capital e as aquisições e/ou aumento de participação em empresas, inclusive em controladas da Petrobras).
4) A Empresa poderá, excepcionalmente, optar por pagar dividendos, mesmo em caso de prejuízo líquido, respeitando os termos da Lei das Sociedades por Ações e sua saúde financeira (mantido da regra anterior).
5) As recompras de ações serão deduzidas do valor aplicado à fórmula.
6) A Companhia pode realizar a distribuição de remuneração extraordinária acima dos valores aplicados à fórmula ou ao mínimo obrigatório, desde que preserve sua sustentabilidade financeira (mantido da regra anterior).
Em suma, entendemos as mudanças como positivas, dado que a companhia enfrentava pressões de diferentes stakeholders para alterações na política de preços, e entendemos que o anúncio consegue contemplar o interesse daqueles que defendiam um menor pagamento de dividendos, ao mesmo tempo em que mantém um critério transparente, periódico e alinhado com as práticas dos pares internacionais.
Somada a alteração aqui comentada com outras mudanças mais recentes, notadamente a política comercial e o limite da faixa para investimento em renováveis (de 6% a 15% do CAPEX), entendemos que a Companhia segue em uma trajetória positiva na diminuição dos possíveis riscos que o mercado atribuía no final de 2022, quando o consenso de mercado deixou de ser majoritariamente de compra e passou a uma maioria neutra em relação ao papel.
Assim, ainda que persistam riscos, como mudanças na alocação de capital e eventual aumento do descolamento de preços em relação à referência internacional, entendemos que esses são eventos que não estão no cenário base, e que a relação risco-retorno da Companhia seguem bastante favoráveis quando observamos o atual EV/EBITDA de 2,6x, ante pares negociados a 4,1x, desconto implícito de 36%, corroborando nossa recomendação compra e o preço alvo de R$ 36,00 para 2023E.
Confira no anexo a íntegra do relatório a respeito, elaborado por
DANIEL COBUCCI, CNPI, analista senior do BB Invetimentos