Bombardeio da Faixa de Gaza por caças da IDF, em 17.10.2023.
Israel está entrando em colapso; e não o Hamas
por Yizha Brik (*)
para o Haaretz
03.09.2024
Algumas pessoas argumentam que retirar as forças do exército de Gaza depois de assinar um acordo de reféns com o Hamas seria o mesmo que ser derrotado e se render. Argumentam que o Hamas retornará como um bumerangue, em um novo ataque; e as baixas serão 10 vezes maiores do que Israel sofreu em 07.10.2023.
Essa afirmação é baseada em um mal-entendido fundamental sobre o que está acontecendo na Faixa de Gaza. É alimentada por clichês espalhados pelos escalões políticos e militares israelenses para justificar suas ações e ganhar apoio do público e legitimidade para continuar uma guerra fracassada.
Na verdade, são essas mesmas pessoas que declaram que a cessação das hostilidades significa a derrota de Israel e a rendição que estão aproximando os militares do colapso e o Estado de sua queda. Não foram alcançados os objetivos da guerra, "levar o Hamas ao colapso" e "libertar todos os reféns por pressão militar".
Se continuarmos lutando em Gaza invadindo e re-atacando os mesmos alvos, não apenas não levaremos o Hamas ao colapso, mas também entraremos em colapso.
Daqui a pouco tempo, também não seremos capazes de realizar esses ataques repetidos, porque a cada dia que passa, as Forças de Defesa de Israel ficam mais fracas e aumenta o número de mortos e feridos em ação entre nossos soldados. O Hamas, em contraste, já reabasteceu suas fileiras com jovens de 17 e 18 anos.
Os reservistas da IDF, as forças de defesa de Israel, já estão votando por meio de ação, com muitos não consentindo mais em serem reformulados repetidamente. Os soldados recrutados estão exaustos e estão perdendo habilidades profissionais por falta de treinamento; alguns deixam os cursos antes de concluí-los.
A economia, as relações internacionais e a coesão social de Israel são severamente prejudicadas por esta guerra de atrito contra o Hamas e o Hezbollah, uma guerra que continuará no norte e no sul enquanto os militares israelenses permanecerem em Gaza.
A necessidade de concentrar forças em outras frentes – Líbano ou Cisjordânia, devido à atividade terrorista – também forçará os militares a retirarem as forças de Gaza e enviarem-nas para vários pontos críticos. Isso ocorre porque as FDI não têm forças suficientes para travar uma guerra em várias frentes.
Em outras palavras, chegará o dia em que as FDI não poderão mais permanecer na Faixa de Gaza porque o Hamas estará no controle total dela, tanto na cidade do túnel subterrâneo, que se estende por centenas de quilômetros, quanto acima do solo.
O número de túneis que as FDI destruíram equivale a apenas alguns percentuais. O mesmo vale para os túneis sob os corredores Philadelphi e Netzarim; até este momento o Hamas os está usando para destinar armas do Sinai aos setores norte e sul da Faixa de Gaza. Nessa situação, o exército israelense é incapaz de derrotá-lo e levá-lo ao colapso.
Se Israel parar de atacar porque os militares estão fracos e porque não há outra escolha, ou se Israel mover suas forças para outras áreas, os inimigos irão declarar com alarde que os militares israelenses jogaram a toalha, deixaram Gaza e se renderam.
Melhor, então, ser esperto e tomar o remédio antes de ficar doente: Israel tem de chegar a um acordo sobre a libertação dos reféns. Esta pode ser a única maneira de trazê-los para casa. Temos de pôr termo à guerra em Gaza, que pode muito bem levar também à cessação dos combates com o Hezbollah, bem como à redução das hipóteses de uma guerra regional em várias frentes, para a qual Israel não está totalmente preparado.
Neste intervalo pacífico, reconstruiremos as forças armadas, a economia, as relações internacionais de Israel e sua coesão social, substituiremos todos os ramos políticos e militares que são cúmplices desse terrível fracasso e partiremos em uma nova direção.
Este é o caminho. Não há outro.
(*) Yitzhak Brik, major-general das Forças de Defesa de Israel (IDF), serviu no Corpo Blindado como comandante de brigada, divisão e tropas, e foi o comandante das faculdades militares das IDF. Por 10 anos, foi o ombudsman das IDF.
A Redação JF recomenda com ênfase que o leitor
confira no jornal israelense HAARETZ, no endereço
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