EDITORIAL
O que há por trás da Pesquisa do Boletim Focus do BC
FARIALIMERS demandam ao BC Selic a 12,25% em 06.11;
e a 12,75% em 11.12.2024
por Wilson R. Correa
em 29.10.2024
Anos atrás, o célebre economista de pensamento desenvolvimentista, recém falecido, Antônio Delfim Neto, em sua coluna no jornal Valor, criticou de maneira ácida o Boletim Focus, editado e publicado todas as 2ªs feiras pelo Banco Central BC, documento que aglutina perspectivas de homens do mercado financeiro a respeito do comportamento de indicadores econômicos, como juros, câmbio, inflação, PIB, coletadas às 6ªs feiras.
Delfim Neto avaliou que o Boletim divulga expectativas auto-realizáveis, dando a entender que se trata, predominantemente, de preferências, pretensões e demandas do mercado financeiro, ao BC, a respeito do comportamento de indicadores econômicos a ser induzido pela Autoridade Monetária, do que visões sobre o comportamento natural mítico desses indicadores 'estimados', em condições coeteris paribus de concorrência perfeita impossível no mercado financeiro oligopolístico brasileiro.
Ocorre que o Boletim Focus dessa última 2ª feira, 28.10, divulgou a projeção dos 'farialimers" para o IPCA, índice oficial de inflação: a projeção do IPCA para 31.12.2024 alcançou 4,55%. Na semana passada esteve em 4,5%.
Todavia, a meta de inflação oficial (IPCA), estabelecida pelo CMN Conselho Monetário Nacional para 2024, é de apenas 3%, com tolerância de 1,5%, para cima e para baixo. Ou seja, o limite superior do IPCA seria 4,50%; e o inferior, 1,50%. Isto é, até a semana passada, o IPCA estaria dentro da meta, ainda que no limite máximo. Mas, nesta semana, estimado em 4,55% para 2024, o comportamento previsto para o IPCA pelo mercado financeiro supera levemente, em 0,05%, o limite superior da meta estabelecida pelo CMN para a inflação oficial deste ano.
Para derrubar essa taxa de inflação estimada, 'farialimers' de pronto demandam, via Boletim Focus, nível ainda maior da taxa Selic, que se encontra em 10,75% neste final de outubro de 2024.
Economistas da linha desenvolvimentista já avaliaram que a meta de 3,0% para o IPCA seria impraticável no Brasil por ser incompativel com o desenvolvimento do País, porquanto a aversão ao risco pelos capitalistas brasileiros, exige do governo federal, notadamente, política de gastos dirigidos a investimentos na formação bruta de capital, destinados a estimular e viabilizar investimentos ... complementares ... do setor privado na oferta de bens e serviços; pois quando acontecem os investimentos pelo setor privado a oferta de bens e serviços se eleva, preços caem e debela-se eventual processo inflacionário causado por aqueles investimentos governamentais anteriores, na formação bruta de capital.
Selic a 11,75% ainda em 2024
Para consolidar a pressão sobre o BC para elevação da Selic, o Boletim Focus também trouxe, em 28.10, a estimativa do nível da taxa Selic demandada por 'farialimers' para 31.12.2024: 11,75% ao ano. Neste 29.10.2024 a taxa Selic encontra-se em 10,75%, conforme estabelecido na reunião do Copom de 18.09.2024, este, um nivel já considerado dos mais elevados do planeta que, ademais comporta elevada taxa de juros básicos real de 6,33%, considerada a inflação de 4,42%, pelo IPCA, nos 12 meses contados até 30.09.2024
Esse nível de taxa básica de juros implica que os homens do mercado financeiro pleiteiam o acréscimo de 0,5 pp (pontos percentuais) em cada uma das duas próximas reuniões do COPOM, em 06.11 e 11.12.2024, quando a Selic então atingiria os níveis de 12,25% e 12,75% ao ano, respectivamente.
O aumento de preços da energia é a causa da elevação da inflação mais lembrada pelos homens desse mercado financeiro voraz, engolidor de receitas fiscais do País para alimentar bancos e rentistas, no mais torpe mecanismo de concentração de renda do País.
Ocorre que os preços da energia são preços administrados, convalidados e autorizados pela ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica, preços que per si jamais respondem à política de juros do Banco Central; são "preços inelásticos" aos juros básicos.
Elevar a Selic para combate aumento de preços administrados pelo próprio Estado trata-se de toupeirismo, falta de visão, conhecimento precário de teoria econômica aplicada ou artifício manhoso para conter deliberadamente, por motivação política inconfessável e antipatriótica, o crescimento econômico do País, o aumento do nível de emprego da população e a redução da miséria do povo mais humilde.
Assim, pode ser concluído que outros fatores podem estar a determinar a orientação dos bancos ao Copom por uma Selic ainda maior que o nivel atual, de 10,75%.
O fator econômico presumível e poderoso para a elevação da Selic é o de viabilizar ainda maior receita aos bancos e rentistas. Isso irá acontecer com a elevação da Selic e é inegável. Ademais, há o interesse dos bancos em apresentar, em seus relatórios anuais de resultados alcançados em 2024, a maior rentabilidade de seus fundos de investimentos oferecidos a aplicadores e clientes, de modo a mantê-los em sua carteira de clientes no próximo ano.
Nesse movimento de expansão da Selic não há conexão alguma com a queda da inflação, exceto por provocar recessão, pois os preços da energia continuarão altos, seja pela crise provocada pelo baixo nível de água dos reservatórios de hidrelétricas em razão de chuvas escassas, seja pelo imprescindível acionamento de térmicas a gás natural, com seus custos mais elevados, nas condições de baixo nível de água nas represas. Juros Selic não têm influência alguma no sentido da redução desses preços administrados de energia.
A política alternativa que poderia ser seguida pelo BC seria a tradicional redução da velocidade de expansão da moeda por meio da retenção, no BC, de percentuais maiores dos depósitos à vista e a prazo dos bancos. Contudo, isso não interessa aos bancos, pois não lhes rende juros ou qualquer remuneração especial e receita a ser paga pelo BC aos bancos, diferentemente da taxa Selic. Desse modo, o BC quase que abandonou essa política alternativa.
PIB, Dólar, Swaps Cambiais, BlackRock
> PIB - 'Farialimers' consultados para o Boletim Focus estimam em 3,08% o crescimento do PIB Produto Interno Bruto em 2024. Mas na primeira reunião do Copom de 2024, em 02.01.2024, essa estimativa era de apenas 1,52%, um erro de 102,6%, o que certamente é indicativo da incapacidade dos 'farialimers' para estimativas. Por outro lado, apresenta sua demanda ao BC para o arredondamento e acomodação das políticas monetária e cambial para o atingimento dessa meta de crescimento medíocre da economia brasileira, o que implica em taxa básica de juros altos.
> Dólar - A previsão desses homens do mercado financeiro para a cotação do dólar dos EUA é de R$ 5,45 em 31.12.2024, no mercado interbancário, isto é, em negociações entre bancos e entre eles o BC. Ocorre que, nesta 3ª feira, 29.10.2024, o dólar dos EUA teve a forte alta de 0,95%, fechando em R$ 5,7282, conforme apresenta o BC e seu site, às 17h39 de 29.10.2024.
Isto significa que o mercado financeiro está a demandar ao BC menor cotação do dólar, R$5,45 até 31.12.2024 (-5,1% em relação a hoje), para que os bancos possam atuar de modo menos oneroso para si ao comprarem dólares no BC para venderem-nos ao mercado de transferências, às sedes de empresas multinacionais no exterior, de lucros e dividendos obtidos por suas filiais estabelecidas no Brasil. E, também, para que os bancos possam realizar, a menores custos para si, operações de vendas cambiais aos viajantes brasileiros para suas férias no exterior, com dólares também adquiridos do BC.
> Swaps Cambiais -- A fonte última dessas demandas em dólar pelos bancos brasileiros são as Reservas Internacionais. Para que a cotação do dólar caia até R$ 5,45 no mercado interbancário ao final de 2024, o processo conduzido pelo BC é a disponibilização, ao mercado, de parcela das reservas cambiais do País por meio de operações de swap cambial. em que o BC tem histórico de prejuízo, nas mãos de seu atual presidente, Campos Neto.
Neste 29.10.2024, o BC tem um passivo em swaps cambiais junto aos bancos da ordem de US$ 102,84 Bilhões, com vencimentos de parcelas a partir de 01.11.2024 até 01.08.2025, em apenas 9 meses, conforme pode ser constatado, a seguir, divulgado pelo próprio BC:
Cronograma de Vencimentos de Swaps Cambiais
Posição em 28.10.2024, em US$ Bilhões
> 1ª parcela, de US$15,10 BI, vcto: 01.11.2024
> 2ª parcela, de US$15,46 BI, vcto: 02.12.2024
> 3ª parcela, de US$15,75 BI, vcto: 02.01.2025
> 4ª parcela, de US$15,65 BI, vcto: 03.02.2025
> 5ª parcela, de US$ 6,69 BI, vcto: 05.03.2025
> 6ª parcela, de US$15,55 BI, vcto: 01.04.2025
> 7ª parcela, de US$15,63 BI, vcto: 01.07.2025
> 8ª parcela, de US$ 3,00 BI, vcto: 01.08.2025
TOTAL de US$102,84 bilhões.
fonte: Banco Central no endereço a seguir:
Disponível às 21h30 de 29.10 2024.
> Legado para Gabriel Galípolo -- Como pode ser observado, não fossem suficientes para deter o crescimento do País os juros Selic exorbitantes, que sua política monetária estúpida levou a cabo, Campos Neto deixa um legado de dívida do BC frente aos bancos privados da ordem de US$ 102,84 bilhões em swaps cambiais. Bomba de explosão programada, legado que vai explodir na mão do novo presidente do BC, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula da Silva; e que poderá obnubilar os 2 últimos anos de seu mandato.
Campos Neto, o preferido dos bancos privados, poupado pelo TCU e pelo Senado Federal, este dominado pelo Centrão, tem sido o pior presidente do BC em toda sua história, desde sua criação em 31.12.1964 até os dias atuais. Em 1º lugar, jamais cumpriu meta de inflação estabelecida pelo CMN; em 2º, o BC em suas mãos escondeu números negativos da economia no período pré-eleitoral de 2022, sob a inacreditável alegação de equívoco técnico, mas, sim, com claros objetivos políticos; em 3º, no mandato de Jair Bolsonaro manteve a Selic abaixo dos níveis necessários, idem; em 4º, torrou reservas cambiais brasileiras; em 5º, o BC em suas mãos teve prejuízo; em 6º, contrariou a lei ao longo de todo seu mandato, ao manter em seu nome aplicações financeiras no exterior, a exemplo do então ministro da Economia no governo Bolsonaro, Paulo Guedes, ambos nos chamados fundos offshore.
> BlackRock - E, neste momento, ao apagar das luzes de seu mandato à frente do BC, teme-se que ouse entregar as Reservas Internacionais Brasileiras à gestão pelo fundo biliardário estadunidense de investimentos, BlackRock, pretensão que deixou transparecer em palestra poucos meses atrás, segundo informe divulgado pela midia.
Por tudo isso, pode-se com grande acurácia afirmar que não foi homem público na melhor acepção do termo; sequer como seu ascendente, Roberto Campos; mas, sim, homem do mercado financeiro implantado no BC pelos grandes bancos para a defesa dos interesses do mercado financeiro, a corja farialimer, que se vale de retórica econômica fundamentalista para promover, sob o manto protetor de portarias do BC, a rapina desavergonhada de recursos fiscais da Nação, conforme densamente comprovado pela ONG Auditoria Cidadã da Dívida, comandada pela Dra. Maria Lúcia Fatorelli, contabilista, administradora e funcionária aposentada da SRF Secretaria da Receita Federal.