UK Votes To Leave EU after 43 years of membership
Essa a manchete da BBC News às 03h04 desta 6ª feira, 24.06.2016: Reino Unido votou em favor da proposta de deixar a União Europeia, após 43 anos como país membro.
O placar foi de 17.410.742 de votos em favor de sair da UE, contra 16.141.241, favoráveis à permanênica, números equivalentes a 52% contra 48% dos votos válidos. Contudo, cerca de 72% do eleitorado participou da votação. A diferença de votos favoráveis ao Brexit alcançou 1.269.501 votos.
Como primeiros resultados econômicos, o barril de petróleo tem queda expressiva e a Libra baixou ao nível de 1985. O primeiro efeito político interno é a declaração de David Cameron, primeiro ministro, de que irá deixar seu cargo em outubro próximo.
Alguns comentários podem ser feitos, nesse primeiro momento.
A) o eleitorado conservador foi levado a votar em favor do BREXIT ;
B) a questão dos refugiados do norte da África, rumo à Europa foi o fator de mobilização em contrário, pelo eleitorado conservador, a classe média mais obtusa e facilmente manipulavel, na forte avalanche conservadora que aflige o Planeta;
C) a presença secundária do Reino Unido na UE, liderada fortemente pela Alemanha e França, aniquilou esperanças inglesas de protagonismo bretão na União Europeia. Não se pode esquecer que a crise econômica atingiu fortemente a Inglaterra que, incrível, até adotou plano de venda de seus vasos de guerra, algo antes impensável;
D) os EUA, ainda que mantenham o Reino Unido como seu fiel aliado, perdem-no na condição de emissário e representante de seus interesses no interior da organização União Europeia;
E) deixar a UE poderá implicar na perda, pelos ingleses, de um importante espaço internacional de interlocução em favor dos interesses ingleses, dos EUA e globais, além de perda de mercado exclusivo e preferencial de cerca de 350 milhões de pessoas;
F) o BREXIT evidencia o fracasso europeu no enfrentamento conjunto da grande competidora que é a China;
G) o BREXIT representa um abalo na perspectiva de multilateralismo, para o qual se voltou a comunidade internacional, com a ascenção de Obama à presidência dos EUA, e à saída de Bush Jr.;
H) o BREXIT está em sintonia com tendência internacional de acordos de comércio país-a-país, que se delineou com o fracasso da ALCA;
I) o BREXIT evidencia o enfraquecimento das perspectivas de comércio no Atlântico; e talvez possa viabilizar a rápida mobilização do Reino Unido em direção aos acordos de comércio do Pacífico;
J) a luta mundial por uma sociedade solidária igualmente sofre forte abalo com o BrExit.
Além desses aspectos mais obscuros, o BREXIT poderá trazer, contudo, aspectos nítidamente mais favoráveis a setores econômicos ingleses, a saber:
K) o BREXIT traz de volta ao governo inglês a possibilidade de adoção de políticas monetária, cambial e fiscal próprias, antes interditadas em favor de uma política única em toda a UE, de caráter recessivo, comandadas pelo BCE Banco Central Europeu, ortodoxo e poderoso emissário dos interesses alemães. O retorno dessas politicas às mãos do governo inglês poderá contemplar maiores possibilidades de adoção de medidas que possam trazer algum grau mais elevado de desenvolvimento econômico;
L) o Reino Unido já 'possui' a sua própria Comunidade de Nações (Commonwealth of Nations), que lhe permite acesso privilegiado aos mercados dos 53 países dela igualmente integrantes, tais como Canadá, Austrália, Índia, de modo que o BrExit não representará isolamento comercial absoluto do Reino Unido no mercado;
M) apesar de o BREXIT evidenciar o enfraquecimento das perspectivas de comércio no Atlântico, talvez possa viabilizar a rápida mobilização do Reino Unido, sem amarras, em direção aos acordos de comércio do Pacífico;
N) o retorno da autonomia do estado na aplicação de políticas monetária, fiscal, e câmbial, oportunizadas pela saida da UE, viabilizará aos países do Reino Unido a permanência do Welfare State, frente a ortodoxia fiscal exigida pelo BCE Banco Central Europeu, junto aos governos nacionais dos países integrantes da UE;
O) e, p r i n c i p a l m e n t e, o BREXIT irá permitir à City de Londres, o mercado financeiro inglês, voltar a alimentar o sonho da retornar à sua estratégia de tornar-se o grande centro financeiro internacional da nova economia verde, e dos bilionários títulos de crédito de direitos de poluição (permis), protagonismo disputado, neste momento, pela Bolsa de Chicago e também pela Bolsa de Nova Iorque.
Nesse sentido, pode-se também entender a torcida de Obama e a natureza dos interesses ocultos norteamericanos para a permanência do Reino Unido na UE: a defesa dos interesses dos EUA na UE e a contenção do Reino Unido em seu sonho de tornar a City de Londres o centro do mercado financeiro internacional, notadamente na prestação de serviços financeiros à Nova Economia Verde Mundial.
Assim, é perspectiva da direção deste Jornal Franquia que, -- mascarada pela questão dos refugiados, de sua busca por espaço para sobrevivência na Europa: da fixação, longe do controle inglês, de cotas de refugiados a serem acolhidos em cada país da União Europeia: e das intermináveis mortes em travessias do Mediterrâneo, -- os interesses de grandes bancos ingleses se fizeram valer no grande apoio obtido junto à classe média inglesa na votação à tese do BrExit, considerado seu interesse de décadas e as costuras políticas na direção de tornar Londres a grande praça financeira internacional. Longe das amarras monetárias, cambiais e fiscais ortodoxas impostas pela Alemanha e pela França, Londres poderá navegar mais soltamente nessa direção.