BRADESCO - Resultado 1T23
Continuidade da pressão sobre o resultado
Por Rafael Reis, CNPI-P
O Bradesco apresentou um resultado que consideramos negativo no 1T23, com lucro líquido recorrente de R$ 4,28 bilhões, equivalente a um ROE trimestral de 10,6%.
O resultado foi desfavorecido principalmente pela menor margem financeira, ainda que com alguma compensação pela contribuição menos negativa da tesouraria, e dado um contexto sazonal com menos dias no trimestre.
Também pesaram as maiores despesas com provisões para devedores duvidosos, na esteira de mais um aumento sequencial significativo dos índices de inadimplência.
Momento.
Os números do Bradesco evidenciam, majoritariamente, tendências conflitantes: a margem financeira bruta – principal linha de receitas – mostra estabilidade percentual sobre a carteira de crédito (em torno de 10%), sugerindo dificuldades do banco em conciliar o mix entre rentabilidade e crescimento, já que as despesas com provisões escalam em ritmo significativamente maior, pressionando a margem líquida, atualmente em cerca de 4%, ante 6,7% no 1T22.
A margem com o mercado (tesouraria) foi uma surpresa positiva, em nossa opinião, já que apesar de ainda mostrar contribuição negativa, o volume foi significativamente menor do que o trimestre anterior, sugerindo possibilidade de inversão da dinâmica talvez de forma mais célere do que anteriormente esperado.
Por outro lado, o crescimento de carteira classificada no comparativo anual ficou em apenas 3,8%, aproximadamente 1/3 do mercado de crédito, denotando forte desaceleração diante da seletividade em andamento no Bradesco. E, embora imaginemos grandes esforços em busca de um mix privilegiando linhas mais conservadoras, nota-se ainda bastante punição vinda do mix arrojado construído no pós-pandemia sobre a inadimplência, que escalou em todos os segmentos de forma íngreme (5,1% no 1T23 ante 4,3% no 4T22 no total, 6,3% ante 5,5% na PF e 6,2% ante 5,3% nas MPEs)
Perspectivas. Colocando na balança
(i) receitas em dinâmica nem tanto ruim, mas longe de pujante graças ao crédito substancialmente mais restritivo,
(ii) receitas de serviços mais comedidas, graças à correlação com o crescimento do crédito,
(iii) inadimplência sitiada, que sugere continuidade de pressão sobre as despesas com provisões, bem como
(iv) contínua postergação do ciclo de queda da taxa de juros, situação capaz de reanimar receitas de tesouraria e descontrair custos de captação e capacidade de pagamento dos devedores, vemos poucos gatilhos positivos para as ações do Bradesco no curto prazo.
Preço-alvo e Recomendação
Sem atualizações no valuation por enquanto, mantemos nosso preço-alvo de R$ 15,50 para o final de 2023, o que representa um potencial de valorização de 9,93% com base no preço atual.
Salientamos que este preço-alvo deriva da projeção de eventual retorno da capacidade operacional do Bradesco a índices históricos, ou seja, não contempla deterioração ou manutenção do mau momento atual por período prolongado.
Mantemos, ainda, a recomendação Neutra para as ações do Bradesco, entendendo que o a inflexão ao momento desafiador do banco ainda não está no horizonte.
CONFIRA no anexo a íntegra do relatório a respeito, elaborado por
RAFAEL REIS, CNPI-P, analista do BB Investimentos