VALE - Resultados no 4º trimestre/2020
Bons resultados operacionais afetados pelo acordo de Brumadinho;
novo preço-alvo 2021e
Os resultados da Vale no 4T20 mostraram uma continuidade dos avanços operacionais, embora fortemente impactados por despesas adicionais referentes ao acordo de Brumadinho.
Ainda assim, a empresa registrou US$ 739 milhões de lucro líquido no trimestre, acumulando US$ 4,9 bilhões em 2020, e revertendo o prejuízo de US$ 1,7 bilhão do ano anterior.
Na mesma data, foi anunciada a distribuição de proventos de ~US$ 4,0 bilhões, equivalentes a R$ 4,26/ação, referentes ao 2º semestre/2020.
Aproveitamos a divulgação dos resultados para incorporarmos novas premissas em nosso modelo, e apresentarmos nosso preço-alvo 2021e para VALE US de US$ 23,50/ação e VALE3 de R$ 120,00/ação, com recomendação de Compra.
Resultados 4T20.
Após divulgar o divulgar o Relatório de Produção e Vendas do 4T20, a Vale apresentou os resultados do período, em que registrou uma receita de US$ 14,8 bilhões (+37,2% t/t) e de US$ 40 bilhões no acumulado de 2020 (+6,5% em relação a 2019, apesar de um volume de vendas ligeiramente menor do que no ano anterior).
Destaque para o segmento de minerais ferrosos, cujas vendas foram de US$ 12,2 bilhões no 4T20 (40,5% t/t), efeito conjunto de volumes de vendas 22,9% superiores e de preços favoráveis de minério de ferro.
O EBITDA Ajustado foi de US$ 4,2 bilhões no 4T20, fortemente impactado pelas despesas adicionais relacionadas ao acordo de Brumadinho (~US$ 4,9 bilhões). No ano, o EBITDA Ajustado totalizou US$ 16,6 bilhões (+56,7% a/a), equivalente a uma margem de 41% (+12 p.p. a/a). O segmento de minerais ferrosos gerou um EBITDA de US$ 8,8 bilhões no 4T20 (+50% t/t) e US$ 21 bilhões no ano (+23,6% sobre 2019).
Em metais básicos, a Vale também registrou um incremento expressivo de EBITDA, sendo US$ 1,1 bilhão no trimestre (+47,8% t/t) e US$ 3,0 bilhões em 2020 (+37,1% a/a). Cabe destacar que, embora não tenha efeito caixa, uma perda por impairment e baixa de ativos de carvão e níquel, principalmente, no valor de US$ 2,2 bilhões, contou negativamente no resultado da empresa.
Ressalvados os efeitos negativos de Brumadinho e do impairment, a Vale continua demonstrando uma evolução de sua performance operacional e segue reforçando que o processo de retomada de capacidade de produção de minério de ferro está dentro do planejado.
O lucro líquido no 4T20 foi de US$ 739 milhões e de US$ 4,9 bilhões em 2020, revertendo o prejuízo de US$ 1,7 bilhão do ano anterior. Com relação à alavancagem, a Vale encerrou 2020 com uma dívida líquida expandida de US$ 13,3 bilhões (vs. US$ 14,5 bilhões no 3T20 e US$ 17,8 bilhões no final de 2019) e, embora acima da estimativa da Vale de US$ 11 bilhões para o fim de 2020 (em função dos compromissos adicionais de Brumadinho), a meta permanece em US$ 10 bilhões para o longo prazo.
Dividendos.
Além do montante de US$ 2,1 bilhões pagos em setembro/20 (R$ 2,41/ação), a empresa anunciou, simultaneamente à divulgação de resultados, a distribuição de mais US$ 3,2 bilhões em dividendos e US$ 779 milhões de juros sobre o capital próprio referentes ao exercício 2020 (juntos, equivalentes a R$ 4,26/ação), a serem pagos no próximo dia 15/março.
Assim, os proventos distribuídos no ano somam R$ 6,67/ação (yield de 6,8% sobre a cotação do último fechamento). Com a expectativa de forte geração de caixa para 2021, acreditamos que a empresa dará continuidade à política de distribuição, com pagamento potencial de US$ 8 bilhões para o exercício atual (yield de 9,3%, de acordo com nossas estimativas).
Acordo de Brumadinho.
Conforme divulgado anteriormente, a Vale assinou, no início de fevereiro/21, um acordo global de reparação de Brumadinho no valor total de R$ 37,7 bilhões. A empresa já tinha realizado desembolsos e contabilizado provisões anteriormente, de forma que foi necessário registrar uma despesa adicional no resultado do 4T20 no valor de US$ 4,9 bilhões, que serão depositados em conta judicial e liberados ao longo dos próximos anos. Segundo a empresa, o acordo encerra as ações civis públicas, pois os autores dessas ações são signatários do documento.
Reforço em ESG.
A Vale segue enfatizando sua política de gestão de riscos, com metas de aumento de segurança das operações, e sua preocupação em eliminar as principais lacunas em relação às melhores práticas ESG. Para reforçar essa mensagem, recentemente foi aprovada a criação da Diretoria Executiva de Sustentabilidade a ser chefiada por Maria Luiza Pinto (ex-diretora da Suzano, referência em aspectos ESG, com larga experiência no tema). Entendemos que se trata de um passo acertado da companhia e coerente com a relevância que a Vale e o mercado têm dado ao tema
Desempenho das ações e revisão de preço
Apesar de acumularem ganhos de 12,7% em 2021 e 131,8% nos últimos 12 meses, os papéis da Vale seguem sendo negociados a múltiplos inferiores aos pares internacionais (BHP e Rio Tinto), e ao próprio patamar histórico de VALE3 desde o evento de Brumadinho.
Com a assinatura do acordo, combinada com o cenário favorável para o setor de mineração, acreditamos que a empresa será gradativamente melhor avaliada pelo mercado, contribuindo para uma valorização ao longo do ano.
Além disso, a perspectiva de distribuição de proventos de forma consistente aumenta a atratividade do ativo, incrementando o potencial retorno total ao acionista.
Tese de Investimento.
Nossa tese de investimento para a Vale considera:
(i) a retomada econômica global, com a China mostrando consistente demanda;
(ii) preços de minério de ferro mais altos do que projetados anteriormente;
(iii) a perspectiva de continuidade de retomada da capacidade produtiva de 400 Mtpa de minério de ferro;
(iv) melhor visibilidade dos impactos financeiros de Brumadinho, após o acordo celebrado recentemente (balanço mais “limpo”);
(v) demonstração contínua da empresa de preocupação
com os aspectos de segurança e ambiental, embora ainda esteja perseguindo o fechamento de diversas lacunas identificadas; e
(vi) maiores retornos diante do pagamento consistente de dividendos.
Riscos.
Dentre principais os riscos que podem afetar nossas projeções, destacamos:
(i) recuperação econômica global aquém do esperado;
(ii) queda significativa nos preços internacionais de minério de ferro;
(iii) um possível, porém improvável, aumento do consumo de produtos de baixa qualidade, reduzindo a margem futura;
(iv) pressão nas margens das siderúrgicas chinesas, o que poderia afetar os prêmios pagos por qualidade;
(v) novos eventos de rompimento de barragem, embora vejamos isso como improvável; e
(vi) falha em proceder com sua estratégia para os ativos de metais básicos e carvão.
Premissas do BB-BI.
Com relação aos volumes de produção, assumimos para minério de ferro 315 Mt e 353 Mt para 2021 e 2023, respectivamente. Estamos assumindo em nosso modelo valores médios de minério de ferro de ~US$ 137,5/t em 2021e (vs. US$ 104,1 anterior), estabilizando em US$ 70/t a partir de 2025, quando a relação oferta x demanda deverá ter um maior equilíbrio.
Confira no anexo a íntegra do relatório a respeito, elaborado por
MARY SILVA, analista do BB INVESTIMENTOS